Esse pensamento nada tem a ver com a cultura de
ostentar excessos em pedrarias, ornamentos,
balangadans, quilos de panos, paramentas absurdamente descaracterizadas - e esteticamente
cheias de não sentidos, "ajeuns" glamorosos por encomendas,
cerimônias rituais em locações luxuosas, seguidas de alvoradas orquestradas,
cafés da manhã requintados, entre outras novidades que nos assustam a cada dia
que passam a brilhar os olhos dos nossos.
Particularmente, penso que o erro já começa na
associação da palavra ostentação ao
candomblé, quando essa define a cultura dos excessos de que tanto estamos
cansados de ver, ouvir e falar. No
entanto, gosto do termo ostentação quando representa os luxos que poucos olhos
podem ver, mas os corações sentem. A ostentação (do latin "ostentare" que significa "mostrar") é o ato ou efeito
de exibir com vaidade e pompa,
bens, direitos ou outra propriedade, normalmente fazendo referência à
necessidade de mostrar luxo ou riqueza.[1] O termo também pode contrair conotação
positiva como por exemplo, "apesar de humilde, o sacerdote ostentava
a fama de ser muito responsável no cuidado com seus filhos de santo, sempre tão
bem educados".
Sim, eu gosto do candomblé ostentação, quando de
forma natural e sem nenhum alarde, se ostenta amor pelo Orixá em sua essência.
Gosto mesmo quando o excesso é apenas de respeito pela comunidade e por qualquer pessoa que chegar. Gosto quando o excesso é de obediência ao o que pede o
Orixá e quando, excessivamente, sente-se Orixá nos quatro cantos do terreiro. Sou apaixonado por lugar com excesso de filhos prontos para a função. Sou apaixonado por candomblé que Orixá tem espaço para excesso de abraços e
demonstrações de carinho por aqueles que o louvam de coração aberto, e não
simplesmente saúda aquele sacerdote famoso, ou no contrário, faz cara feia e
"peita" os possíveis desafetos de seus "Omo".
Pode ser desconexo pensar ostentação de
sentimentos, de seriedade, de carinho,
atenção, e verdades. A ostentação trata de práticas de soberba e vaidade, logo,
naturalmente quando se transborda bons sentimentos, não há tempo, tampouco
necessidade de se vangloriar por amar e respeitar tanto o outro. Quem assim
faz, só faz por entender a importância da afetividade, e quem cultua a
ostentação do candomblé, faz por uma necessidade de atenção. Acho mesmo que a
gente dando espaço para o culto de excessos errados. Cultuamos o ego e nunca o
amor. Talvez, tudo seria mais fácil se nossos excessos fossem de afeto e não
medidos nas quantidades, nos valores gastos, e nos luxos que preocupam tantos
dos nossos, certos de que serão melhor aceitos se os olhos do visitante brilhar ao entrar na sua sala e encontrar seu orixá - mesmo que descaracterizado - impecavelmente brilhoso.
Nossos valores são pautados nos preços e gradativamente, vamos nos perdendo numa cultura descartável sem verdadeiro valor e quase nada de Axé.
Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved
Meus respeitos, motumbá!
ResponderExcluirSábias palavras.
ResponderExcluirEncantada com sua visão e esperançosa que exista mais seres humanizados dentro do candomblé.
Kolofé!