Percebe o frio da primeira sexta-feira do mês? Agora, vá me
dizer que Oxalá não sabe o que acontece no mundo..?
Não ouse me dizer que meu
Deus é força distante e que só nos encontraremos em um certo juízo final, antes
de um Paraíso.
Não é assim não.
Minha sorte é essa. É a força de um Deus presente em todos
os dias, horas, minutos, segundos. Minha sorte é poder perceber quando a força
mais sagrada passa na terra. E o meu pai faz assim, baixa as temperaturas,
assenta a fúria, e no vento gelado, vai confortando quem por ti tem fé.
Astuto? talvez. Mas quem sou eu para questionar o Rei quando
ele diz que vai? Eu posso não ir, mas ele vai quando quiser, para onde quiser.
Reveza os passos mais lentos e certeiro e chega onde quer chegar.
Percebe que é a primeira sexta-feira do mês e corre água
vinda do céu. É tempo de água rolar para lavar o mundo. É tempo da peregrinação
branca que acorda os dias, em quartinhas alvas. Caminha em fila única, canta
sem muito alarde - canta rezando. Pisa o chão descalços, sente o frio que toma
a terra umedecida pela neblina. Canta com o coração a chorar. Curva-se com
calma e sem pressa, mergulha e enche sua
pequena porcelana de água mais limpa que as lágrimas que nos escorrem o
rosto... Volta a cantar, volta rezando que o próprio caminho te lava. Chega
para lavar a vida mais uma vez. Em pura
paciência, repita os caminhos por todos os dias, e dia após o outro, o peso do
mundo diminui... É quando as vestes do Rei tornam-se alvas, mais uma vez e ele
perdoa o mundo.
Mundo esse que Ele traz nas costas sozinho, amparado, no
bastão pra sustentar a vida. Vai menino novo, limpa coração para poder te estender a mão! Sim, o Rei me dá a oportunidade de lhe tocar.
Emoção! É quando as minhas pernas tremem, eu fraquejo por dentro, e por fora
sou firma rocha de sustento, porque meu Pai quer dançar. Ele vem, quase em
um... dois... três, passos só, quando o coro se bota a quebrar.
É que essa é a nossa vida. E entender nem se faz em meu
pensar. Viver para a força Branca é sentir o frio, acalentar na chuva fina, e
tudo, na neblina, enxergar. É que o Rei já tirou a pressa do mundo, para que
nada a gente não pudesse mais a vida sujar.
Mas tenha calma. Olhe a janela, veja o Rei no breu. Seja
também a neblina, de vento gelado que arrepia a espinha, dobre os joelhos,
alcance o chão gelado, dobre-se mais até que o topo do seu mundo, encontre a
base da existência - sim. bata cabeça - cante, reze cantando, converse no
silêncio... e sinta quando passa Oxalá...
Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved
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