Enquanto comunidades de terreiro
de algumas cidades brasileiras tem suas práticas ameaçadas e direitos silenciados,
como é o exemplo do Município de Valinhos - que na semana passada votou e provou
o projeto de lei que pretende criminalizar o uso de animais em rituais religiosos - o povo de matriz africana de Diadema comemora a aprovação do Projeto de Lei
77/2015, de autoria do Vereador Josa Queiroz (PT) que oficializa a data 02 de
fevereiro como o "Dia das Águas de Iemanjá", na quarta cidade mais negra do país.
Josa Queiroz (PT Diadema) é o único vereador Umbandista, em Diadema.
Há quase uma década, a Festa de
Iemanjá é realizada na cidade, por esforços das comunidades e da Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros de Diadema (FUCABRAD).
Com somente um voto contrário, o
Dia das Águas de Iemanjá entra para o calendário oficial do município e passa ter "tratamento igualitário,
assim como tem outras religiões", afirmou o vereador Josa Queiroz, que tem se empenhado para garantir os direitos e valorização das tradições
de matriz africana, na quarta cidade mais negras do Brasil.
Clique para acessar o projeto de lei: http://www.cmdiadema.sp.gov.br/PLidos/PL077-2015.pdf
"É de fundamental importância que a gente tenha leis
aprovadas que vão de encontro com o reconhecimento, e com tratamento igualitário
para as nossas religiões. Infelizmente, por termos poucos representantes que
assumam de fato a nossa religião, nós ficamos limitados a ter projetos numa
dimensão muito menos do que aquilo que nós representamos e do que representa nossa
religião. Esse projeto vem muito de encontro com esse diálogo de estabelecer
que as comunidades sejam reconhecidas, de estabelecer que a nossa religião seja
tratada de forma igualitária, assim como outras religiões são tratadas no
âmbito municipal. Aqui em Diadema nós temos diversos projetos que fazem
referências às comunidades católicas e evangélicas, e nós procuramos, no nosso
mandato priorizar que o mesmo tratamento seja dado ao povo do santo, ao povo da
Umbanda, ao povo das religiões de matriz africana, de Diadema." - Explicou
o vereador que é Umbandista e além do oficialização do Dia de Iemanjá, lutou
para aprovação de outros projetos de leis que pautem e reconheçam as celebrações
do Povo de Santo diademense, entre eles: a criação da Medalha Francelino de Shapanan que homenageará sacerdotes e sacerdotisas da cidade; Medalha Zélio
Fernandino de Moraes, em referência aos dirigentes da Umbanda; e a
oficialização do Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa, Dia da Umbanda,
e a inclusão da Tradicional Festa de Ogun no calendário da cidade:
"Acho que é
muito pouco ainda, diante do que nós representamos, diante da importância que
nós temos, mas não vamos deixar de continuar trabalhando para trazer outros
projetos." comentou.
Segundo Josa, "Resistência ao projeto sempre tem.
Infelizmente... Os vereadores, no nosso caso aqui, não assumem publicamente
qualquer tipo de contrariedade de posicionamento em relação a projetos que vão
de encontro com o interesse da nossa religião e do nosso povo. Mas obviamente
aqueles que representam os setores das igrejas evangélicas, esse tem assumido
posicionamentos claros, e inclusive votado contra.
Nós tivemos um voto contrário de um membro da Assembléia de
Deus. São setores mais reacionários. Setores mais radicais e que demonstram
claramente que o discurso de intolerância, de preconceito e homofóbico ocorre
em grande escala.
Na medida que um vereador, representante desse segmento, se
posiciona contrário, ele demonstra que ele não tem respeito nenhum por outra
religião, que não seja a dele.
Mas isso é tranquilo também. Estamos aqui para fazer o
enfrentamento, o debate e se houver necessidade, convocamos o nosso povo para
ocupar o plenário da Câmara e fazer pressão política. Não houve necessidade. A
grande maioria dos vereadores entendeu a importância do projeto e votou
favorável. Foram 18 votos favoráveis. O presidente não votou porque ele não
vota esse projeto, e duas abstenções - uma por falta de um vereador e outro
voto contrário (vereador membro da Assembléia de Deus)".
"Essa discussão de como a municipalidade trata nossos
direitos e deveres tem muito a ver com o nosso nível de organização. Aqui em
Diadema, nós temos um nível de organização muito grande. A FUCABRAD se faz
presente, ocupa os espaços e participa dos fóruns de debates e discussão e é
uma federação extremamente atuante na reinvidição dos direitos da nossa
comunidade. Isso se dá em todos os sentidos: na organização de eventos,
simpósios, seminários. Isso se faz presente também quando ocorre situações de
perseguição em templos e casas nossas. Então o fato da Federação se fazer
presente, o fato da gente ter um vereador aqui na Câmara que representa os
nossos interesses, faz com que o poder público local tenha um tratamento
diferenciado. Um tratamento que não é o adequado, não é o ideal, mas que nós
estamos trabalhando bastante para que esse tratamento, cada vez mais, se
assemelhe ao tratamento dado para outros seguimentos e religiões."
[Entrevista cedida pelo vereador Josa Queiroz ao blog Olhar de um Cipó, em 12/02/2016.
Foto I: Roger Cipó - Olhar de um Cipó / Foto II: Reprodução]
Nossa... "Numa região muito menos" ... Teria de ser "muito menor". .. E " vai de encontro " teria de ser " vai ao encontro " . Isso dentro do contexto do texto. Ir de encontro é ir contra .. Ir ao encontro é ir a favor. Dentro do contexto esse vereador umbandista errou nas colocações de palavras .
ResponderExcluirMesmo assim parabéns pela conquista. Temos que lutar pelos direitos sim. Manter a tradição afro-brasileira é importante.