12 de fevereiro de 2016

Diadema oficializa o Dia das Águas de Iemanjá e garante lei em prol das Tradições de Matriz Africana

Enquanto comunidades de terreiro de algumas cidades brasileiras tem suas práticas ameaçadas e direitos silenciados, como é o exemplo do Município de Valinhos - que na semana passada votou e provou o projeto de lei que pretende criminalizar o uso de animais em rituais religiosos - o povo de matriz africana de Diadema comemora a aprovação do Projeto de Lei 77/2015, de autoria do Vereador Josa Queiroz (PT) que oficializa a data 02 de fevereiro como o "Dia das Águas de Iemanjá", na quarta cidade mais negra do país.

Josa Queiroz (PT Diadema) é o único vereador Umbandista, em Diadema.


Há quase uma década, a Festa de Iemanjá é realizada na cidade, por esforços das comunidades  e da Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros de Diadema (FUCABRAD).


Com somente um voto contrário, o Dia das Águas de Iemanjá entra para o calendário oficial do município e passa ter "tratamento igualitário, assim como tem outras religiões", afirmou o vereador Josa Queiroz, que tem se empenhado para garantir os direitos e valorização das tradições de matriz africana, na quarta cidade mais negras do Brasil.

Clique para acessar o projeto de lei: http://www.cmdiadema.sp.gov.br/PLidos/PL077-2015.pdf

"É de fundamental importância que a gente tenha leis aprovadas que vão de encontro com o reconhecimento, e com tratamento igualitário para as nossas religiões. Infelizmente, por termos poucos representantes que assumam de fato a nossa religião, nós ficamos limitados a ter projetos numa dimensão muito menos do que aquilo que nós representamos e do que representa nossa religião. Esse projeto vem muito de encontro com esse diálogo de estabelecer que as comunidades sejam reconhecidas, de estabelecer que a nossa religião seja tratada de forma igualitária, assim como outras religiões são tratadas no âmbito municipal. Aqui em Diadema nós temos diversos projetos que fazem referências às comunidades católicas e evangélicas, e nós procuramos, no nosso mandato priorizar que o mesmo tratamento seja dado ao povo do santo, ao povo da Umbanda, ao povo das religiões de matriz africana, de Diadema." - Explicou o vereador que é Umbandista e além do oficialização do Dia de Iemanjá, lutou para aprovação de outros projetos de leis que pautem e reconheçam as celebrações do Povo de Santo diademense, entre eles: a criação da Medalha Francelino de Shapanan que homenageará sacerdotes e sacerdotisas da cidade; Medalha Zélio Fernandino de Moraes, em referência aos dirigentes da Umbanda; e a oficialização do Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa, Dia da Umbanda, e a inclusão da Tradicional Festa de Ogun no calendário da cidade:
 "Acho que é muito pouco ainda, diante do que nós representamos, diante da importância que nós temos, mas não vamos deixar de continuar trabalhando para trazer outros projetos." comentou.



Segundo Josa, "Resistência ao projeto sempre tem. Infelizmente... Os vereadores, no nosso caso aqui, não assumem publicamente qualquer tipo de contrariedade de posicionamento em relação a projetos que vão de encontro com o interesse da nossa religião e do nosso povo. Mas obviamente aqueles que representam os setores das igrejas evangélicas, esse tem assumido posicionamentos claros, e inclusive votado contra.
Nós tivemos um voto contrário de um membro da Assembléia de Deus. São setores mais reacionários. Setores mais radicais e que demonstram claramente que o discurso de intolerância, de preconceito e homofóbico ocorre em grande escala.
Na medida que um vereador, representante desse segmento, se posiciona contrário, ele demonstra que ele não tem respeito nenhum por outra religião, que não seja a dele.
Mas isso é tranquilo também. Estamos aqui para fazer o enfrentamento, o debate e se houver necessidade, convocamos o nosso povo para ocupar o plenário da Câmara e fazer pressão política. Não houve necessidade. A grande maioria dos vereadores entendeu a importância do projeto e votou favorável. Foram 18 votos favoráveis. O presidente não votou porque ele não vota esse projeto, e duas abstenções - uma por falta de um vereador e outro voto contrário (vereador membro da Assembléia de Deus)".

"Essa discussão de como a municipalidade trata nossos direitos e deveres tem muito a ver com o nosso nível de organização. Aqui em Diadema, nós temos um nível de organização muito grande. A FUCABRAD se faz presente, ocupa os espaços e participa dos fóruns de debates e discussão e é uma federação extremamente atuante na reinvidição dos direitos da nossa comunidade. Isso se dá em todos os sentidos: na organização de eventos, simpósios, seminários. Isso se faz presente também quando ocorre situações de perseguição em templos e casas nossas. Então o fato da Federação se fazer presente, o fato da gente ter um vereador aqui na Câmara que representa os nossos interesses, faz com que o poder público local tenha um tratamento diferenciado. Um tratamento que não é o adequado, não é o ideal, mas que nós estamos trabalhando bastante para que esse tratamento, cada vez mais, se assemelhe ao tratamento dado para outros seguimentos e religiões."

[Entrevista cedida pelo vereador Josa Queiroz ao blog Olhar de um Cipó, em 12/02/2016. 
Foto I: Roger Cipó - Olhar de um Cipó / Foto II: Reprodução]








Um comentário:

  1. Nossa... "Numa região muito menos" ... Teria de ser "muito menor". .. E " vai de encontro " teria de ser " vai ao encontro " . Isso dentro do contexto do texto. Ir de encontro é ir contra .. Ir ao encontro é ir a favor. Dentro do contexto esse vereador umbandista errou nas colocações de palavras .

    Mesmo assim parabéns pela conquista. Temos que lutar pelos direitos sim. Manter a tradição afro-brasileira é importante.

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