29 de junho de 2016

Oyun Mimọ - Gravidez Sagrada no Mundo dos Orixás

Oyun Mimọ - Gravidez Sagrada é um projeto fotográfico da Olhar de um Cipó em homenagem à Ancestralidade Feminina Africana que permite gestação cuidadosa e envolve as gravidas em uma potente força, conectando-as às Iyabas (Orixás Mulhere), que consagram a possibilidade e certeza de novas vidas e renovação do Axé.
Inspirado nas influências das divindades "donas dos Oris" (Orixás) da gestante fotografada, o projeto evidencia a presença sagrada na gravidez - sagrada por excelência - dialogando com o ambiente do terreiro, elementos de fé, cores e tons que transformam a imagem em instrumento sensibilizador sobre a esperança que a nova vida vem renovar.

As gestantes convidadas para esse projeto são membros iniciadas do Terreiro Egbé Iya Gunté (meu Asé :D)

Confira imagens de três ensaios do projeto:



 Gestante: Daraofá de Logun Edé - Mãe da Manu


Gestante: Iya Ofadan de Oxuamarê - Mãe do Ian e Pietro - Ensaio produzido na gravidez do Ian 



Gestante: Oyajinde de Oyá - Mãe da Aninha

: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

22 de junho de 2016

"Dez anos no candomblé e sua vida financeira não melhorou?" - Um pensar sobre respostas



Depois daquele ebó, o trabalho desejado não deu certo?
Depois da iniciação, você não conseguiu trocar de carro?
Dez anos no candomblé e sua financeira não melhorou?
Quantas perguntas como essas? Quantas respostas...
E quem responde o que o outro não quer ouvir, é o quê?
Sincero!

É preciso que sejamos sinceros com nós mesmo, e principalmente com quem chega ao nosso universo religioso.
Ouço e leio histórias, a todo instante, de pessoas que chegam porque é "a salvação".
Antes de dizer que "Não. Não é", precisamos entender que a "salvação" cristã não existe em nossa religião, como a ideia de prosperidade, semelhante ao que propaga outros segmentos, também não.

Talvez, ajude muito entender que o Candomblé, por mais que seja uma religião afro-brasileira, nascida no Brasil, se baseia nas relações de interações com a natureza - e chamo de natureza, tudo que vive ao nosso redor (seja visível ou sensível), através de divindades ancestrais africanas, que são forças sagradas que nos ajudam a melhorar essas relações, nos religando a Deus (Sim! Nossa religião é Monoteísta!), ao mundo que habitamos, às relações que construímos, e a nós mesmo.

Candomblé nos religa à África em nós (para mim, isso é o mais importante). 
É o mais importante porque esse religar tem muito a ver, ou até responde as perguntas do início do texto.

Quando nos permitimos conexão com os valores africanos, ensinados pelos Orixás, entendemos e aprendemos a viver a partir de uma filosofia diferente da que existe no mundo cristianizado e catequizado. A gente passa a entender Orixá como parte de nós e não como espírito ao nosso favor - como erroneamente, ouvimos.
Quando conectados com valores africanos, a gente entende Orixá como energia fortalecedora, que equilibra nossas forças vitais, e nunca como mecanismo de triunfo, ou fórmula de sucesso.
Quando conectados com Orixá, o outro é templo de uma divindade, assim como sou, e nunca inimigo. O outro é sempre parte de mim, e a medida que, por exemplo, eu peço-lhe benção, peço licença para me conectar à sua divindade, e o movimento de retorno, me faz portal para que o outro, igual a mim, encontre força sagrada no que trago de valoroso. Sem preços.
Quando conectados com os valores africanos, a saúde é também resultado da nossa presença no mundo. É resultado do que se come, daquilo que bebe, de como dorme, de como vive, e principalmente, de como (e daquilo que se) fala. As palavras são trazidas pela sopro interno que nos deu vida. Palavra é a força mais poderosa que possuímos. Seria inocente achar que elas não determinam a boa e má saúde, né?

Reparemos que no Candomblé, até pode faltar um elemento de fundamento, só nunca pode faltar a palavra. Opte pelas boas palavras.

Ainda sobre confiança, a palavra, no pensar África, é Lei. E se o terreiro é a nossa possibilidade de reconstruir África em nós, porque não usar bem as palavras?
E, por que não significar nossas palavras?
Por que não significar nossa presença no terreiro?

Talvez, entendermos que o Candomblé não irá resolver nossos problemas financeiros é uma chave para mobilizarmo-nos a protagonizar nossas próprias vidas, assumindo os acertos e erros do cotidiano.
Talvez, aceitar que Orixá não é/nem será a fórmula para ascensão, fará com que culpemos menos as divindades pelos nossos desacertos sociais, porque uma força que tem o dom de nos ligar a deus, não pode ser responsabilizada pela infelicidade de nossas relações.

Isso não quer dizer que os rituais não sejam importantes. Eles são. Só não são a solução, tampouco responsáveis pelo desdobrar da vida.
Cada um traz África Ancestral em si. Cada África Ancestral vem por um caminho. Cada África Ancestral revive sob um destino.
O rito nos ajuda a entender por caminho melhor andar. Nunca irá definir onde chegar.
Talvez, a gente só precise respeitar e reconhecer Orixá como parte do que somos na natureza, e nunca como ferramenta distante usada somente em nossos interesses, para que a presença dessas forças sejam, cada vez, maiores em nós.

Talvez...
Não sei... Talvez eu só esteja escrevendo essas linhas para resumir que, de tantas trilhas e caminhos pelos quais nos perdemos, entender que para Orixá o Ter nunca será tão nobre quanto Ser, e que, talvez, quando a gente entender que Ser alguém melhor para a vida, é o que nos faz seres próspero, teremos todas as possibilidades de andar melhor.
[Foto e Texto: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved]

15 de junho de 2016

Série: Orixás do Candomblé - Retratos da Força Ancestral da Fé Negra

Para além de todas as definições teóricas e técnicas de grandes teóricos e pesquisadores, vou me ater a uma das definições mais sinceras e lindas que encontrei nos últimos dias: "Orixá não é espirito daqueles que vem de fora e toma o corpo, não somos 'espiritas' [também não haveria problemas se fossémos]! Orixá é a força que vem de dentro. Nosso corpo é o templo do sagrado!"  [Janaína Teodoro]

Orixá, ou Nkise, ou Vodun, é força mis pura que cada um trás em seu ser. É o pouco de África Ancestral que renasce em quem se conecta. É a nossa capacidade de se perceber parte importante do mundo. É a folha em nós, é a água, o vento, o fogo, a poeira, o ar que dá vida, a placenta, o coração que pulsa, a vontade de vencer na vida, a certeza de que morte é viver também. 

Assim, compartilho uma parte da série "Orixás do Candomblé - Retratos da Força Ancestral da Fé Negra", imagens que me foram permitidas ao longo da pesquisa Olhar de um Cipó, numa tentativa de registrar a presença das forças de Orixá, Nkises e Voduns, quando convidados pelos toque dos atabaques e dos cantos sagrados, alinhados à fé de seus filhos e filhas se manifestam e revivem suas histórias, lutas e relações de amor com seus descendentes.



Omolu 

Oxum 

 Oyá 

 Ogum

Oxóssi 

Oxóssi 

 Iroko

 Nanã

 Oxum

 Oyá

Yewa 

 Ogum

Yemanjá 

Xangô


Todas as imagens são de autoria de Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

14 de junho de 2016

O Pequeno Príncipe de Terreiro


O Pequeno Príncipe de Terreiro não vive fantasias de terra distante. 
Fantástico é mesmo seu mundo, onde reina os Orixás. 

E se a celebração no Terreiro é no sábado à noite, na sexta após a escola, por exemplo, lá ele está, vestindo seu branco bem passado, fio de contas pendurados e com o orgulho no rosto de que vai para cantar para o Orixá.

O Pequeno Príncipe de Terreiro trava batalhas no dia-a-dia. Não consigo, porque empoderado pela vida, Pequeno Príncipe já é.
Sua guerra é contra a intolerância que demoniza sua crença, seus amores, sua fé, seus reis e suas rainhas sagradas africanas. Luta com ternura e não perde a doçura de que é Príncipe e sabe seu lugar no mundo. 

O Pequeno Príncipe do Terreiro, aprendeu, desde cedo que no mundo a força mais cativadora era sua relação com o espaço, tempo e forças da natureza que habita seu corpo e faz dele o majestoso filho futuro do candomblé, herdado pelos seus ancestrai. 


















O Pequeno Príncipe de Terreiro
Modelo: Gabriel de Ossayin. 
Ensaio Originalmente publicado em 2014 sob o título de Menino das Folhas. 
Texto e Fotos: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved


2 de junho de 2016

Candomblé - Religiosidade que nos Liga à Força de África em Nós e N@ Outr@


Conta-se que o Deus cristão expulsou Adão e Eva do paraíso. Eles conhecem o pecado, e como penitência perderam a relação harmoniosa com o todo poderoso. Há que diga que é nesse momento de distanciamento que se nasce a religião, no sentido de religar reles mortais à divindade sagrada. Pode até ser, mas religião não é só isso, nem tampouco um branco-cistão-eurocêntrico.

Há quem pense o candomblé como religião e há que acredite que o conceito religioso é raso para uma tradição em que a divindade sagrada nunca se distancia de seus e suas fiéis. E eu concordo. Diferente de outras vertentes a relação sagrada com os deuses e deusas é uma constante. A vida co-existe com a vida de fé. Os Orixás habitam as águas doces, salgadas e águas dos corpos, habitam as folhas, as plantas, as árvores - que por sinal são tempos e ligam a terra e o céu, habitam as estradas, a terra, as montanhas, as cidades, os ventos, e tudo que é vivo. Porque os Orixás africanos e africanas são forças vitais que garantem o equilíbrio da vida na terra, em harmonia com o determinado por Olodumaré, nosso Deus.

A vida em cooperação com os Orixás, de fato, ultrapassa o conceito e religião comentado, isso porque nosso fundamento é outro, é relação direta, é entender que tudo ao redor é sagrado e que o corpo é o templo onde habita Orixá.
Candomblé é uma religião afro-brasileira de culto às divindades africanas, logo é importante que nos percebamos propagadores da filosofia e religiosidade dos deuses de África.

Nessa forma de viver, Orixá é a força para nos equilibra na estrada do viver. A medida em que permitimos que essa força se aproxime de quem somos, nos tornamos pessoas melhores. Não melhores como dizem os padrões do capitalismo, e sim melhores para as relações de vida ao redor. 

Desde que me encontrei no candomblé tenho me esforçado para viver a partir do que Orixá ensina e nos pede. Mais que nos ligar a Deus, o Candomblé nos conduz para uma busca de religar-nos a nós mesmo, perceber humanidade sagrada no outro, porque se em meu ser habita um deus, no outro também, logo o cuidado e o respeito devem ser bases importantes das relações sociais.


A minha verdade é que o candomblé fez com que eu me descobrisse negro. Uma descoberta que vai além da cor da pele, dos cabelos crespos e traços. Uma descoberta de identidade, da afirmação de uma negritude que me permite dignidade e força para gritar todos os nãos contra uma cultura racista que, quando não tenta nos limitar a padrões de belezas que não nos cabem, marginaliza nossa estética, criminaliza nossas vidas e demoniza nossa fé. Conhecer o candomblé ligou quem eu era a mim mesmo, a quem eu poderia ser, a quem eu sou. E isso é religião, isso é sagrado. Porque me faz perceber o quão sagrado o mundo pode ser, e é. 

Candomblé é a religião que permite  que encontremos o pedaço de África em nós, que fora sucumbido por uma cultura intolerante e racista que nunca se permitiu, e não se permite olhar, perceber, sentir e respeitar a humanidade da fé negra. Quem se inicia no candomblé, seja lá em qual for a nação, ou em cultos africanos, se permite nascer para a vida ancestral. Quem assim faz, faz para viver uma filosofia diferente das superficialidades de um mundo que tem banalizado por demais o sentido de fé, religiosidade e força sagrada. Faz (nasce) para aprender como a vida africana lida com as diferenças, cuida dos mais novos, dos mais velhos, respeita as mulheres, aceita opiniões divergentes, valoriza o que tem valor, não se baseia - e não deve se basear em preços.


Candomblé é o abraço dado a quem a sociedade nega afeto. É acolhimento a quem não se permite ser posto em pequenos vidros de ensaio para ter a vida esteriotipada e assistida por uma mentalidade normativa. Candomblé é o caminho para quem quer sentir que sagrado é o curso natural da vida e caminha para viver mais próximo da Mãe do Mundo, a Terra África nunca distante dos seus filhos e filhas.  

Texto e Foto: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

Akili, o Rapper Filho de Oxaguian lança ep Orí



As divindades africanas ordenam: "Louve Orí antes de qualquer Orixá", e assim faz o Rapper Akili, ao lançar seu mais novo trabalho, o Ep Orí. Um grito contra a violência contra a fé negra e pedido de consciência e respeito.  

Com apresentação de Esù, a divindade da comunicação, das relações humanas e da segurança em caminhar, no album Orí (do yorubá: Cabeça), o rapper filho de Oxaguian enaltece as relações ancestrais da música sagrada do Candomblé com o RAP e outros influências afro-brasileiras, ao homenagear a religiosidade africana. As composições refletem sobre a importância de bons pensamentos e como a energia vital da "cabeça-divindade" (Orí) nos conduz para os caminhos escolhidos. 

O albúm conta com a participação especial do Ogan Alexandre Buda, um dos mais importantes mestres dos atabaques de São Paulo.



Orí eni ni mu 'ni j'oba” - A cabeça de uma pessoa faz dela um rei


Sobre o Rapper:

Akili é o nome artístico de Bruno Nascimento, que, assim como o significado de seu nome artístico é um ‘Guerreiro Sonhador’. Bruno iniciou sua carreira no RAP em 1997, aos 11 anos.
Um de seus trabalhos mais importantes foi com o Rimologia, fundador na Zona Norte de São Paulo e rapper de 2007 á 2015, teve uma trajetória única, com ideias conscientes, conteúdo crítico e muita musicalidade nas letras.
Além do papel musical, Akili tem o compromisso social de levar cultura às favelas de São Paulo, por meio do Rap, Hip Hop, Poesia e Cinema, com projetos como o Cine Rima Vida e Brilho Legítimo.
Em novembro de 2015 o Rapper lançou o vídeo clipe  da música ‘Herança’, um resgate ao povo preto e afro religioso. A música traz remix da grande cantora Clara Nunes com a canção “O Canto das Três Raças”. O filme já atingiu mais de 30 mil visualizações nas redes sociais.  Assista: