30 de novembro de 2015

Orixá não é espírito! Orixá não é espírito! Orixá não é espírito!


E alguém me envia a seguinte mensagem: “Boa Noite, professor, gostaria de saber como eu faço para melhorar a incorporação do meu Orixá. Sou iniciado no “Orixá Ogun” e sinto ainda ser um médium consciente, apenas com Ogun. Quando dou passagem ao meu Caboclo, não sinto, ouço, nem vejo nada, mas quando “dou passagem” a Ogun e “coloco todas as suas paramentas”, ainda sinto a incorporação muito fraca, será que não sou de Ogun?”
Obviamente, já respondi à pessoa que não sei como fazer, porque este não é o Orixá que conheço e não o concebo desta forma. Lamentei por não poder orientá-la e desculpei-me por isso.
De qualquer modo, a confusão apresentada me intriga e é comum, Orixá – incorporação – mediunidade consciente – iniciação neste Orixá com feições de espírito ou tomado como espírito.
Orixá não é espírito! Orixá não é espírito! Orixá não é espírito!
É assim, quem quer se comunicar com os espíritos deve seguir as práticas mediúnicas; quem quiser seguir as lições de Buda deve seguir o Budismo, quem quiser encontrar Jesus e a suposta, bem suposta, salvação deve seguir o cristianismo e afins;

Agora, quem quiser uma prática negra, africana, antirracista, que deve se caracterizar como não excludente, humanista, de resistência negra, identitária, iniciática, ritual e que cultua um “Orixá” centelha divina-natureza-ancestral-Rei (e não Orixás espíritos), Rainha, Princesa, Príncipe mitológicos, água, fogo, terra e ar sagrados; quem quiser encontrar Orí e cultuá-lo por meio dos ritos do Candomblé, quem quiser o poder das folhas e alimentar-se por meio da “Alimentação Tradicional”, quem quiser fazer o corpo ceder à divindade sem se preocupar com o que está do lado de fora e com o modo de sentir; quem quiser se compreender e compreender por meio do outro; quem quiser “ser possuído” por Orixá, ceder ao transe e ao movimento do corpo e ter o corpo como centro da divindade e movimentar-se como água, rio, folha, brisa, vento, fogo, terra, reproduzindo os mitos ancestrais africanos e desaprender e reaprender a ser; e deixar de ser fragmento e tornar-se, por meio do todo, unidade e força de resistência à lógica do opressor; quem quiser uma nova família “de identidade e valores civilizatórios negros” e pensar como família venha para o Candomblé. Este é o Candomblé e este é o Orixá do Candomblé. 

Orixá não é espírito! Orixá não é espírito! Orixá não é espírito!

Se ainda não entendeu isso, creio que ainda não saiba, igualmente, o lugar com o qual se identifique. #pensemos.

Texto: Professor Sidnei Barreto Nogueira 
Fotos: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved


26 de novembro de 2015

Deputada Leci Brandão realiza Ato Solene pelo Dia Nacional do Samba


O evento acontece no dia 2 de dezembro e conta com o apoio da SMPIR, deputado federal Orlando Silva e ASTEC SP. Neste ano, cinco personalidades do samba paulista serão homenageadas


O Dia do Samba é comemorado todos os anos em 2 de dezembro. Para marcar este momento, a deputada Leci Brandão fará um ato solene na Assembleia Legislativa de São Paulo, a partir das 18h00, no auditório Paulo Kobayashi. Os homenageados especiais da noite serão Dona Generosa, presidente do Samba da Laje, Dona Duda Ribeiro, Embaixatriz do Samba de São Paulo, Tia Cida, do Berço do Samba de São Mateus, Seu Dadinho, do Camisa Verde e Branco e Seu Carlão do Peruche. O evento também conta com o apoio da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, Associação de Sambistas, Terreiros e Comunidades de Samba de São Paulo (ASTEC SP), Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, União das Escolas de Samba Paulistana e do deputado federal Orlando Silva (PCdoB/SP).

Samba Patrimônio Cultural

O mandato da deputada Leci vem promovendo ações e elaborando propostas para que o Poder Público possa reconhecer e valorizar a cultura do samba no Estado, tamanha a importância do gênero na construção da identidade brasileira. Entre as ações está a produção de publicações como as cartilhas Memória do Samba Paulista, projeto que terá sua quarta edição em referência aos representantes do samba que serão homenageados no ato. A Lei do Dia Estadual do Samba, a realização de uma audiência pública sobre as comunidades de samba (2013) e o projeto de lei que declara o samba patrimônio cultural imaterial do Estado de São Paulo são alguns exemplos de iniciativas relacionadas ao samba realizadas pela deputada. Além destas ações, o mandato vem apoiando o projeto Circuito de Rodas de Samba de São Paulo, que está na segunda edição reunindo 56 rodas de samba paulistas. As duas edições do guia e oferecem informações sobre rodas que acontecem periodicamente, apontando datas, locais, referências e contatos para mais informações. A distribuição é gratuita o conteúdo está disponível em versão digital no site www.deputadalecibrandao.com.br, seção ‘Mais Publicações’.

Personalidades do samba paulista
 Os homenageados da solenidade são figuras de grande expressão no samba paulista. Conheça um pouco sobre cada um deles:


Seu Dadinho 
O paulista Eduardo Joaquim nasceu 08 de agosto de 1943. Conhecido como Seu Dadinho, fez carreira nos Correios, mas sempre dividiu o seu tempo e dedicação com samba. Seu Dadinho é considerado um dos fundadores da escola de samba Camisa Verde e Branco e conviveu com grandes baluartes como Seu Inocêncio no Camisa Verde, Pé Rachado da Vai-Vai, Seu Carlão do Peruche, Madrinha Eunice no Lavapés (primeira escola de samba de São Paulo, ainda em atividade) e Alberto Alves da Silva da Nenê de Vila Matilde. Todas essas personalidades plantaram a semente do samba no estado de São Paulo. Ritmista e compositor de mão cheia, já coordenou a bateria da escola e escreveu canções como Peso da Tradição, Festa No Morro, Malandro Vacilão, Canto Pra Viver, Revelação, Eta Samba Bom.



Dona Generosa
Maria Generosa da Silva nasceu em 18 de julho de 1954 na Vila Santa Catarina, zona sul, mesmo bairro onde cresceu e mora até hoje. Dona Generosa, como é conhecida, é articuladora e presidente do Samba da Laje, uma das rodas samba mais animadas e engajadas de São Paulo. A roda tem mais de 20 anos e acontece 1 vês por mês na laje e da frente da Casa da dona Generosa e família, uma rua íngreme que já atraiu artistas como Arlindo Cruz e Beth Carvalho, além do carinho e admiração de toda a sua comunidade. O Samba da Laje é um reduto do samba de São Paulo.


Tia Cida
Maria Aparecida da Silva Trajano nasceu no dia 26 de novembro de 1940 em São Paulo. É filha de Maria Ercília da Silva Rosa e Otávio Henrique de Oliveira, conhecido como Blecaute, compositor de “General da Banda” (1949) entre muitos outros clássicos do carnaval de rua. Tia Cida ou Tia Cida dos Terreiros, é a mãe do lugar que ficou conhecido como o Berço do Samba de São Mateus, na zona leste de São Paulo. Sua casa se tornou um tradicional reduto do samba por acolher músicos, sambistas e apaixonados pelo gênero que faziam e continuam a fazer grandes rodas de samba, tendo tia Cida como matriarca e referência. Tia Cida gravou seu primeiro disco aos 73 anos de idade com incentivo e produção do Quinteto em Branco e Preto, grupo que viu nascer nas rodas de samba de seu quintal.



Dona Duda Ribeiro 
Dulcinéa Ribeiro é professora de Educação Musical e Expressão Corporal, cantora, relações públicas, diretora de ala e apresentadora de eventos. Nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criada em São Paulo, no bairro da Lapa, zona oeste. Militou por 9 anos da Escola de Samba Vai Vai a convite do padrinho, o sambista Geraldo Filme, e depois no Camisa Verde e Branco a convite do Sr. Carlos Alberto Tobias. Foi dançarina e, depois, backing vocal do programa Show do Sargentelli na década de 70 e a única mulher a integrar o tradicional JB Samba. Foi eleita Cidadã Samba de São Paulo em 2005 por unanimidade, e agraciada com o título de Embaixatriz do Samba de São Paulo pela Embaixada do Samba Paulistano.




Seu Carlão do Peruche
Carlos Alberto Caetano nasceu no dia 11 de setembro de 1930 na região da Santa Cecília e Barra Funda, zona Oeste de São Paulo. Aproximou-se do samba quando conheceu a Lavapés, a mais antiga escola de samba paulistana ainda em funcionamento fundada por Madrinha Eunice. Foi lá que Seu Carlão tomou verdadeiro gosto pelo samba, liderou sambistas ainda adolescente e de onde saiu, em 1955, para formar sua própria agremiação, a Escola de Samba Unidos do Peruche, fundada em 1956 no bairro da Casa Verde. Além de ser um personagem importante da história do samba paulista, condecorado Embaixador do Samba pela União das Escolas de Samba de São Paulo, Seu Carlão é um exímio contador de histórias. Como um griô ele carrega consigo a sabedoria de quem muito viveu e aprendeu com os mais velhos. Seu Carlão não só fundou a Peruche como militou e milita pela tradição do samba paulista.

Serviço
Ato Solene Dia Nacional do Samba
Quando:
 02/12/15, quarta-feira, às 18h00.
Onde: Plenário Paulo Kobayashi da Assembleia Legislativa de São Paulo
Endereço: Avenida Pedro Álvares Cabral, 201, andar monumental, Ibirapuera/SP
Homenageados especiais: Dona Generosa, presidente do Samba da Laje, Dona Duda Ribeiro, Embaixatriz do Samba de São Paulo, Tia Cida, do Berço do Samba de São Mateus, Seu Dadinho, do Camisa Verde e Branco e Seu Carlão do Peruche.
Evento aberto ao público
Realização: Deputada Leci Brandão / Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
Apoio: Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo, Associação de Sambistas, Terreiros e Comunidades de Samba de São Paulo (ASTEC SP), Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, União das Escolas de Samba Paulistana e deputado federal Orlando Silva (PCdoB/SP).
Mais informações: 113886-6790
Imprensa: 113886-6790 / deputadalecibrandao@gmail.com
Crédito Imagens Divulgação: Roger Cipó / Olhar de um Cipó
*O estacionamento da ALESP não é liberado

11 de novembro de 2015

FLINKSAMPA recebe Palestra sobre Intolerância Religiosa, sexta 13/11 no Memorial da América Latina-SP




Idealizada e organizada pela Universidade Zumbi dos Palmares e pela ONG Afrobras, a FLINKSAMPA – Festa do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra chega à sua 3ª edição sob o lema Eu quero respirar!. A frase é uma referência ao direito de existir, de ser negro, de se ver espelhado na sociedade e de contar, de fato, com todos os direitos humanos estabelecidos. O conceito norteará os diversos ciclos de discussões e o espaço para manifestações culturais, que serão realizados nos dias 13 e 14 de novembro, uma semana antes da Semana da Consciência Negra.

No dia 13, às 14:30 o Fotógrafo e pesquisador Roger Cipó participa do evento com a Palestra "Intolerância Religiosa: A Face do Racismo que Mata em Nome de Deus", uma abordagem sobre os perigos do fanatismo religioso e como o racismo brasileiro tem atuado violentamente para Oprimir seguidorxs  das Religiões de Matriz Africana, no Memorial da América Latina, em São Paulo. 
A palestra é gratuita e acontecerá no Espaço Vestibular Zumbi dos Palmares, da FLINKSAMPA. 
Mais Informações e programação completa, clique no link: http://www.flinksampa.com.br/index.php/programacao/32-programacao/227-espaco-vestibular-zumbi-dos-palmares 


Roger Cipó é fotógrafo-pesquisador, educador social, candomblecista e militante contra os crimes de intolerância religiosa e racismo. Suas  produções e pesquisas fotográficas no candomblé e umbanda, tem como objetivo estudar as diversas estruturas que baseiam a sociedade afro religiosa. Em seu trabalho, a fotografia ultrapassa a condição de documentação e assume o papel de instrumento sensibilizador para a desconstrução de conceitos intolerantes amparados pelo racismo, propondo diálogos visuais e de reflexão sobre a verdadeira imagem da pluralidade cultura e arte ritual afro-religiosa. 
Roger Cipó é também idealizador da Organização das Tradições Ancestrais Africanas - O.T.A, coletivo formado por religiosos, artistas e estudiosos das culturas africanas, pela articulação, mobilização sócio-cultural pelo direito de expressão da fé negra. E em 2015 foi reconhecido com o Prêmio Jovens do Axé, na Câmara Municipal de São Paulo, em iniciativa do Programa Liberdade de Expressão.   
FLINK SAMPA 2015 - Memorial da América Latina - São Paulo (Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664  - Ao lado do metrô Barra Funda ,São Paulo - SP)

9 de novembro de 2015

Elba Ramalho e Alexandre Frota: As Desculpas da Opressão




Onde eu nasci, diziam que "depois que inventaram a desculpas, pilantra nenhum tomou tapa na cara", e essa foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando assisti o depoimento de Alexandre Frota, após lembrar que Elba Ramalho também se redimiu, pelo mesmo motivo: Desrespeito às Religiões de Matriz Africana.

A expressão acima, usada por mim, pode ser ignorante, mas é a grosso modo mesmo que a relembro, para dizer que pedir desculpas é muito fácil, muito fácil quando se comete um crime de Intolerância Religiosa.

É muito fácil para Elba Ramalho ligar a câmera de um smartphone e gravar um vídeo pedindo perdão para o Candomblé e Umbanda por "não bem entender" as nossas particularidades e reforçar a idéia de demonização às Divindades Africanas. É fácil porque fica "elas por elas" e a cantora famosa não responde legalmente por um crime de Intolerância Religiosa ao fazer mal uso de canais de comunicação para espalhar inverdades, violentando e desrespeitando a fé alheia. É muito fácil, e a gente acredita.

É muito fácil para um cara como Alexandre Frota fazer piadas nojentas e machistas, usando a figura de uma sacerdotisa como brinquedo sexual, e depois ir até um terreiro, em um evento público, pedir desculpas, chorar e ainda receber palmas de consolo. É fácil porque o Frota, com a sua prepotência preconceituosa, não será indiciado por crime de intolerância religiosa e possível estupro.  É fácil! 

Coincidência ou não, duas figuras públicas decidiram pedir perdão às religiões de matriz africana por conta de seus "desconhecimento" - como Elba Ramalho tentou se desculpar, e pelas "brincadeiras de mal gosto" - como chorou o Frota.

Respeito o direito de resposta, mas preciso lembrar que cometeram um crime e que deveriam ser responsabilizados legalmente, principalmente porque a intolerância religiosa mata e o propagar do tipo de conduta como a de vocês é o que dá margem para outros brincalhões fanáticos sintam-se no direito de queimar terreiros, apedrejar crianças, ou até abusar sexualmente de meninas  e mulheres.


Na semana passada, um vídeo testemunho de Elba Ramalho durante um culto em igreja ganhou as redes sociais, chamando atenção para a "salvação" encontrada pela cantora, na igreja, após seu contato com terreiros, e Exú - o que segundo ela, seria o Demônio. Poucos dias após a viralização do vídeo, milhares de respostas em repúdio foram postadas nas redes sociais, a produção da artista retirou o vídeo testemunho do ar e imediatamente, a cantora enviou um vídeo com pedido de desculpas ao Candomblé e Umbanda. Fácil pedir desculpas assim, né? 

Há um ano atrás, Alexandre Frota contou uma "piada" no Programa Agora é Tarde de Rafinha Bastos, de forma extremamente pejorativa, que narrava como obteve relação sexual com uma Mãe de Santo. A verdade é que, qualquer pessoa que assisti ao depoimento com calma, vai entender que a história contata por Frota remete, não à uma brincadeirinha, mas à uma "piada" de tentativa de estupro.



 "Ai eu fiquei olhando aquele bundão, e falei: 'po! vou comer, vou pegar. Ai, pô, cheguei pra ela e falei: Ai, deixa eu te falar uma parada. Eu não acredito nessas paradas que você faz - não sei o que, e coisa e tal... Mas eu queria te dar uns pegas (...) E aí, tem jogo?' Ela ficou assim mesmo (comentando sobre o silêncio da Mãe de Santo), não falou nada e eu falei, vou pegar... Aí virei e pô, botei a Mãe de Santo de quatro assim... aí eu tava preocupado com as minhas amigas lá fora, então garrei assim pela nuca (...)" - contou o ator que disse que ao fazer muita pressão na nuca, a mulher dormiu (leia-se desmaiou sufocada - porque isso que é).


A forma dos artistas brasileiros de fazerem piadas é uma das mais violentas do mundo, porque em sua maioria, usam da "comédia" para oprimirem ainda mais classes e indivíduos socialmente oprimidos e excluídos. Nossos comediantes, em quase maioria tem como alvo de piadas, negros, gays, lésbicas, transexuais, mulher, pobreza, nordestinos, e outros grupos colocados à margem social do fundamentalismo e conservadorismo.

Sou chato. Sou sim, porque é inaceitável fazer piada com a mulher quando uma das principais causas da morte de mulheres brasileiras é a violência sexual. E quem vê graça nisso? O Alexandre Frota vê!

 É inaceitável fazer piadas com sacerdotes e sacerdotisas de matriz africana em um país onde as comunidades de terreiros sofrem historicamente um processo de caça às bruxas e demonização, e na maioria dos casos de intolerância religiosa que culminam em agressão física, as mulheres são violentadas.

É covarde, irracional, repugnante. É criminoso.
E crimes devem sim ser encarados como tal.

Desculpas são bem vindas, mas respostas legais são também e devem acontecer para sirva de exemplo e outros criminosos não se sintam no mesmo direito de atentar contra as religiões de matriz africana.

Clique para assistir o pedido de desculpas de Frota, durante o evento "Toque da União", realizado ontem, 08/11, no Terreiro Batistini, em São Bernardo do Campo. 

É importante que o povo de santo também acorde para essas questões, pois se nossa luta é pela criminalização eficiente da Intolerância Religiosa, porque criminosos nos ganham nas desculpas? É fácil, né? Sim, o fato de um ator ir até um terreiro de candomblé para pedir desculpas e chorar, é fácil sim. Alguém treinado para chorar, sorrir, sentir prazer e tantas outras expressões em públicos, sabe bem comover com pedidos de perdão.

Verdadeiros ou não, os perdões de Elba Ramalho e Alexandre Frota nos foram pedidos e estão ai pra quem quiser, comprar, mas suas ações intolerantes seguem marcadas em nossa história. São só mais algumas chibatas de uma sociedade racista em nossas costas. Esquece quem quer, pois eu não. Mas se as desculpas estão aí, a gente que se organize para cobrar que ele e ela não tenham novas recaídas e não tornem a desrespeitar-nos. Ou quem sabe, poderíamos sugerir que usassem de suas famas e acessos à grande mídia para publicizarem seus arrependimentos. Seria um pouco mais justo, né? Oras, continua fácil usar um programa de TV de canal aberto para hostilizar a fé alheia e pedir desculpas em um pequeno vídeo de internet, ou em evento fechado com menos de mil pessoas. Embora as mensagens foram direcionadas a quem é de direito (povo de santo), sabemos que a sociedade em geral precisa entender o quão desrespeitoso foram tais condutas para que os "exemplos angelicais" (ambos vestidos de branco, viram?) de Elba Ramalho e Alexandre Frota, incentivem outros opressores.


Aguardemos os próximos arrependidos. E talvez, eu mude de idéia e acredite no arrependimento quando ambos somarem às lutas do povo de axé contra os crimes de intolerância e violência contra a mulher brasileira e fazerem com que seus seguidores e seguidoras pensem diferente e com respeito às nossas lutas e histórias. Antes disso, repito que não compro lágrima barata.

São Paulo recebe a exposição Terciliano Jr. 50 anos - A Matriz Africana em Arte


Fonte: Agência Caixa de Notícias 

A CAIXA CULTURAL SÃO PAULO inaugurou no dia 26 de setembro, a mostra individual “Terciliano Jr. 50 anos – a matriz africana em arte”,  com a exibição de um conjunto de 45 telas, 20 objetos em madeira e 40 obras em papel, selecionadas pela curadora Matilde Matos.
As obras de Terciliano evocam e retratam Orixás, guias, adereços, instrumentos e objetos ritualísticos ligados às culturas da África Ocidental 2015.estabelecidas sobretudo na costa e interior da Bahia. A exposição, que é gratuita e patrocinada pela Caixa Econômica Federal, prossegue até o dia 26 de novembro de 2015.,
No Dia 20 de Novembro, o Artista vem a São Paulo para uma visita guiada e bate-papo sobre o trabalho. 



Nascido em Salvador, Terciliano Jr. é artista plástico. Sobrinho do Babalorixá Bernardino Bate Folha (fundador do Terreiro do Bate Folha – Salvador-BA), se mantém como observador da religiosidade, levando para seu trabalho artístico um olhar atento e minucioso sobre a beleza da cultura das doutrinas afrodescendentes. Fez teatro e televisão (trabalhou na novela “Irmãos Coragem”), mas foi nas artes plásticas que encontrou seu universo artístico pleno.  

 “Voltar a expor em São Paulo é uma grande emoção. Ao longo desses anos passei a produzir além dos quadros, papel e madeira, sempre tendo a matriz africana como referencial. Levo para meus trabalhos a maneira como sinto a simplicidade, o colorido, o vermelho e o branco dessa matriz... Criar me completa!”, declara o artista.





Ao longo de sua carreira já realizou mais de 300 exposições entre individuais e coletivas no Brasil, nos Estados Unidos e Europa, sendo laureado pela Academia de Artes, Ciências e Letras de Paris em 2008, pela relevância de seu trabalho. Morou por 10 nos Estados Unidos, possuindo obras em coleções particulares, museus e escolas de Belas Artes.




 
SERVIÇO:
EXPOSIÇÃO: “TERCILIANO JR. 50 ANOS – A MATRIZ AFRICANA EM ARTE”
Abertura: dia 26 de setembro, sábado, às 11 horas
Palestra: “A matriz africana” Prof. Dr. Ordep Serra, 11:30 horas – 50 vagas inscrições: tercilianojrsp@gmail.com
Visitas guiadas com o artista: na abertura 
e no dia 20 de novembro às 11h. 
Temporada: de 26 de setembro a 29 de novembro de 2015 
Dias e horários: terça a domingo, das 9h às 19h
Local: CAIXA Cultural São Paulo – Praça da Sé, 111 – Centro – São Paulo (SP)
Entrada: Franca
Classificação: Livre para todos os públicos
Acesso para pessoas com necessidades especiais
Informações: (11) 3321-4400
Produção: MCM Produções Artísticas Ltda. ME
Patrocínio: Caixa Econômica Federal


5 de novembro de 2015

Um dos Segredos da Iniciação no Candomblé


Para alguns, a iniciação termina no “Dia do Orukó” – dia do novo nome do iniciado/divindade - ou no dia em que há “A queda do kelê” – dia em que a jóia da divindade é retirada do pescoço do seu iniciado.
Todavia, não é tão simples assim; na verdade, naquele momento, a iniciação está, parcialmente, começando e levará sete anos para que se conclua. O final do ciclo, denominado iniciação, terminará quando o iniciado for considerado adulto e a sua divindade crescer com, no e por meio dele. Lembremo-nos que a divindade nasceu em seu corpo, em sua cabeça e em sua vida e esta mesma divindade crescerá e tornar-se-á adulta com o seu crescimento, ou seja, em uma relação de simbiose iniciado/divindade.
A iniciação requer participação, aprendizagem e o crescimento/desenvolvimento da “centelha natureza- divindade africana” que acaba de ser sacralizada e fixada em sua vida dependerá da relação e do compromisso que o iniciado estabelecer com a sua iniciação.
Lembremo-nos que se trata de um casamento. Originalmente, “ìyàwó” é esposa, ou seja, ao me iniciar eu me torno esposa ou esposo da divindade para a qual fui iniciado.
Por este motivo, é prematuro dizer que, antes dos sete anos ou “Oro Odun Eje” – ritos sagrados referentes aos sete anos, o “ìyàwó” está plenamente iniciado. Orisa/ Vondun ou Nkisi é a natureza que habita em nós e a natureza sacralizada em nossa vida; é a ancestralidade africana que nos harmoniza, nos fortalece e nos transforma em reis, rainhas, príncipes e princesas africanas, mas, a existência dessas forças sagradas e sua atuação em nossas vidas depende de informação, participação e aquisição de conhecimento.
Algumas pessoas estranham o fato de processos recíprocos de ensino e aprendizagem fazerem parte do processo iniciático. Alguns acreditam que isso invalida a existência da divindade, mas poderá existir um processo sagrado, social, cultural e histórico sem ensino e aprendizagem, sobretudo quando envolve uma nova língua, novos códigos, novos símbolos, novas alegorias, novos ritmos e danças em terras que não sejam aquelas originárias e que visam inserir o homem neste novo universo?
Orixá, Vodun ou Nkisi não são espíritos. No Candomblé, não se trata de um processo mediúnico. O iniciado NÃO É um médium da divindade, mas receptáculo da divindade, receptáculo capaz de receber, metaforicamente, a água do rio, o vento, o raio, a terra, o fogo (...) que, no momento do transe, irá preenchê-lo.
Esta natureza é “antropomorfizada” – transformada em humana e, neste momento, recorre-se a um conhecimento ligado à gênese do Candomblé, porque não existe um texto sem contexto e sem a valorização do conhecimento ligado à gênese do Candomblé.
Desse modo, aprender a cantar, dançar, ritmos, coreografias, cores, sons, gritos, códigos, modos de fazer e “ser” do Candomblé são fundamentais para que uma pessoa se diga do Candomblé e para que a sua divindade se “antropomorfize” plenamente, pois, se eu não vivo o Candomblé em sua plenitude e não recorro a este conhecimento anterior, posso começar a fazer algo que não necessariamente será reconhecido e concebido como “CANDOMBLÉ”.
Ainda nesse sentido, a água do rio só será água do rio se puder fluir livremente e ultrapassar as pedras – egos e desejos humanos e, para isso, aprender qual o papel do rio e como o rio deve estar limpo para cumprir o seu papel na natureza é fundamental para que o rio seja, efetivamente, rio.

Texto: Professor e Babalorixá Sidnei Barreto Nogueira
Foto da série Saída de Yawo  por Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

4 de novembro de 2015

Rio de Janeiro sedia encontros Nacional e Estadual de Juventude de Terreiros em Novembro


II Encontro Nacional de Juventude de Terreiros e IV Encontro Estadual Juventude de Terreiros do Rio de Janeiro
O encontro realizado pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde(RENAFRO) vai acontecer no Hotel São Francisco, nos dias 07 e 08 de novembro de 2015, na cidade do Rio de Janeiro. Conta com o apoio da Gerência de DST-AIDS da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro e do Departamento de DST-AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.

O encontro tem como objetivos:
1) investir nos processos de formação e de acesso a informações para a garantia dos direitos humanos da juventude de terreiros com ênfase no combate ao racismo e de todas as formas de intolerâncias,
2) dar continuidade aos treinamentos em políticas públicas para as lideranças de juventude dos terreiros dos núcleos da RENAFRO,
3) organizar uma pauta de necessidades e prioridades da juventude de terreiros para atuação política a nível nacional e internacional
4) fortalecer e dar suporte a participação qualificada dos jovens de terreiros da RENAFRO que serão delegados na Conferência Nacional de Juventude e Conferência Nacional de Saúde.


Local: Hotel São Francisco - Rua Visconde de Inhaúma, 95 - Centro – Rio de Janeiro
O Evento é inteiramente Gratuito e Inscrições são feiras no Local! 


Programação: Dia 07 de novembro de 2015 (sábado)
08:00h- Café com Axé
08:30h - Cânticos de louvor a vida e a natureza
9:00h – Mesa de Abertura:
10h – Sala de Conversa 1: Juventude de Terreiros e Patrimônio Cultural
11:00h – Conversa Afiada: Juventude de Terreiros, Racismo, Políticas Públicas e Qualidade de Vida
12:30h - Almoço
14:00h - Samba de Roda
14:10h - Vídeo-debate: O Cuidar nos Terreiros: práticas de cuidados na tradição religiosa afro-brasileira, direitos humanos e percepções sobre o Sistema Único de Saúde
15:30h – Sala de Conversa: Sexualidades e Novas formas de Prevenção em HIV-AIDS
17:00h às 18:00- Contando histórias: Relatos de casos e experiências de promoção da saúde realizado por jovens de terreiros

Programação: Dia 08 de novembro de 2015 (domingo)

09:00h - Bate- papo: Juventude, Comunicação e Promoção da Saúde
10:30h – Sala de Conversa: III Conferência Nacional de Juventude e a XV Conferência Nacional de Saúde: a importância da participação da juventude de terreiros nos espaços de controle social de políticas públicas.
12:30h- Almoço
14:00h – Contando histórias: Relatos de casos e experiências de promoção da saúde realizado por jovens de terreiros
14:40h - Varal de Idéias: Construindo uma agenda nacional de atuação política da Juventude de Terreiros nos espaços de decisão
16:40h - Avaliação final
17:15h – Encerramento do evento
17:30h – Confraternização e Apresentação Cultural 

Divulgação*

3 de novembro de 2015

É Hora de Denegrir o Candomblé!



Já faz um tempo que venho olhando com bastante atenção para as manifestações segregacionistas do candomblé, especialmente o tão aclamado, Candomblé Tradicional de São Paulo. 

Algumas pessoas que me acompanham podem, num primeiro momento, achar que há uma certa contradição nessas linhas, pois grito aos quatro cantos que o candomblé é a religião do acolhimento, da reconstrução dos laços familiares ancestrais, mas não se trata disso. Falo, porque em essência, candomblé é e deve sempre ser o espaço sagrado de acolhimento, onde se comunga em comunidade da importância de ser como se é, respeitando as individualidades e peculiaridades de cada ser.

Mas, como comungar quando o ritmo alucinado, soberbo e individualista da cidade que não dorme influencia tanto a estrutura social das comunidades religiosas? 
Como confraternizar se o candomblé de São Paulo estabelece suas relações e co-existência a partir daquilo que se veste, da quantidade de Omo Orisa - pessoas no axé, do que é servido no Ajeum - ou buffet pós/durante cerimônia, da quantidade de pedrarias, dos metros de panos e do pertencimento ao clã X ou Y? 
Os questionamentos são muitos e, talvez, o mais urgente seja mesmo a reflexão de, como pensar uma religião afro-brasileira a partir de conceitos negros? 
Como denegrir o Candomblé de vez?

Das últimas experiências de diálogos, formações, debates e até discussões, nada tem me chamado tanto a atenção quanto o pavor e negação de muitos quando citada a expressão Religião Negra. E se a verdade causa espanto, eis a importância de se Denegrir de vez o Candomblé!

Denegrir quer dizer "tornar negro", mas socialmente usada, a palavra é usada para explicar que alguém hostilizou, inferiorizou, tornou ruim, ou tornou algo negro/negativo. Mas pera aí! Tornar Negro ou ser Negro é tão ruim assim? Para a sociedade racista em que vivemos, é. Mas para o Candomblé não! É essencial que nossa estrutura seja negra, que nossa educação seja negra e que nossos conceitos sejam negros.

Quando falo de pensar um candomblé negro, não me refiro à tez da pele dos fiéis, até porque racismo não se resume às questões de pele. É uma estrutura de poder, de opressão e que precisaria de um texto inteiro para explica. Principalmente para que não se acredite mais em racismo inverso, e nem em consciência humana.

Acredito mesmo que candomblé é sim a religião do acolhimento, amparo e amor às diferenças e todxs são bem vindos, mas em reforço, repito, nossa concepção é negra.
Criada por descendentes de reinados africanos que foram ultrajados, sequestrados e condicionados à condição de escravos, o candomblé é uma religião de culto a seres africanos divinizados. Yemonjá antes de assumir o domínio e morada dos mares, era uma rainha negra. Osun, antes de se transformar no rio que carrega seu nome, era uma rainha negra. Ogun, antes de se fundir aos caminhos do mundo, era um Rei Guerreiro Negro. Logo, mesmo que as águas da cachoeira sejam cristalinas e as folhas sejam verdes, todas essas energias são negras.



É negro, é negra e negro é Lindo, negra é Linda!
Posso também lembrar o poeta Sergio Vaz que em seu texto "Magia Negra" traz heróis, heroínas, músicos, atores, e personalidades negras e finaliza dizendo que: "Isso e mais um monte de coisas que é magia negra. O resto é feitiço racista", numa inteligente desconstrução de conceitos enraizados em nossa língua que, somente por racismo e opressão, usa o termo para nos associar àquilo que não presta, não é bom, ou envolvo de maldade. 
Quer um dos culpados para isso? Vá até os escritos sagrados e entenda como o cristianismo atuou e segue atuante no ideal da supremacia branca e demonização do negro e sua cultura.

A cultura de ostentação imperialista no candomblé atual retrata exatamente o distanciamento da essência de culto ideal às divindades africanas - digo até que se distancia do ideal africano. Pois se a essência nos motiva a ser, a contradição explicita a importância de ter, e obviamente quem não tem, não faz parte. Assim entendemos as manifestações de segregação na sociedade religiosa: são barreiras visualmente perceptíveis. Aquele que chegar com a melhor roupa, o melhor rechillieu, panos brocados, torços enormes e pedrarias reluzentes é sempre melhor recebido que aquele que opta pelo jeans branco, camisa simples e chinelo de dedo. 
Naturalmente, é importante que cada um se vista com o que te faz bem, concordo e nem discuto. Julgo problema quando aquele que tem condições de usar os melhores panos se sente superior ao sem condições financeiras, e em um grupo de já oprimidos, oprimir também.
Esse tipo de cultura é responsável pelo contraditório distanciamento em uma religião onde, em verdade, deveria acolhe, igualmente, o rechilieu e o morim, mas em colocá-los em uma posição antagônica de melhor/pior ou rico/pobre.

Impossível falar de questões econômicas e não lembrar que negros e negras no Brasil ainda recebem os menores salários e em sua maioria, ocupam os cargos de faxina, serviço gerais, manutenção, operários, vendedores de pequenos portes, e outros serviços e sub-serviços marginalizados. 
E se a sociedade é desigual ao ponto de estabelecer pseudo lugares para negrxs, porque no âmbito religioso reforçaríamos esses espaços?


Como podemos reafirmar idéias segregadoras em uma tradição pautada no amor ao o que se é? Eu que não consigo conceber essa ideia, penso pela desconstrução imediata de todas as barreiras criadas até hoje. Por se tratar de uma religião, um dos caminhos é conhecer a história do povo negro, suas lutas, seus reinados. A história negra começa bem antes da escravidão, bem antes da invasão do Brasil (...) A história do negro antecede Jesus Cristo - esse mesmo Jesus que só foi pintado de branco com cabelos lisos e olhos azuis para satisfazer um mercado onde a branquitude representa o belo, o sútil, o limpo - e a negritude é tida como o feio, o assustador, e a representação do mal na terra.  Isso também explica o porquê de a estátua de Iemanjá, na Praia Grande ser Branca, mesmo que uma representação da Umbanda, em verdade a força da divindade é africana e negra.  Esses e muitos outros mecanismo, de caso pensado, têm a mesma finalidade. Já citei e torno a dizer, enfraquecer socialmente a força e representatividade negra. 

Mas que sigamos pelo enegrecimento do candomblé, em seus conceitos. Enegrecer quer dizer, retornar para os princípios e valores nos ensinados pelas divindades africanas. Restaurar a identidade da religião onde a força maior pisa  solos, descalços e que não precisa de metros e mais metros de panos, para ter vida, porque o importante para o Orixá é Ser e quando o assunto e ter, o único pedido é que se tenha fé e respeito em abundância. Para que os bens materiais e a estrutura social escravagista de nossa sociedade não nos permita reproduzir e estabelecer espaços de Casa Grande e Senzalas nos Terreiros, e muito menos, sejamos Capitães do Mato, contra os nossos próprios irmãos, filhos e famílias de Axé.

Texto e Fotos*:  Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved - *: Exceto a foto da Estátua de Iemanjá: retirada da internet.
Revisão de texto: Professor e Babalorixá Sidnei Barreto Nogueira.