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27 de janeiro de 2016
12 dicas para quem quer se vincular a uma Casa de Candomblé
O professor, estudioso e sacerdote, Pai Sidnei Nogueira (uma das minhas importantes referências intelectuais do assunto) listou 12 dicas para quem quer se vincular a uma Casa de Candomblé. Como a própria lista diz, são dicas, não regras - até porque a religião não detém uma cartilha ou carta magna (eu mesmo acho que não precisa ter, mas é assunto para uma outra publicação). Assim, sintam-se a vontade para refletirem sobre tais, vindas de um sacerdote experiente que tem se dedicado ao compartilhamento de saberes para o fortalecimento identitário do nosso povo e crença:
1. Veja se há crianças e se iniciam as crianças - se há crianças e elas são iniciadas, acreditam no que fazem e é bom para todos;
2. Observe como as crianças são tratadas - elas devem ser prioritárias e prioridade em uma Casa de Candomblé;
3. Observe se o discurso é mais africano preto ou branco-cristão - ele deve ser preto-afrocentrado;
4. Observe se os líderes trabalham com discursos coercitivos de medos, culpas e dores cristãs - se o fazem e vc o quer, vá para a igreja mais próxima que é mais fácil;
5. Observe se há a prática de "boas palavras" sempre - uma Casa de axé valoriza e pratica boas palavras e o silêncio;
6. Observe se a Casa e suas lideranças praticam a exclusão, discriminação de qualquer tipo, homofobia, transfobia, violência e subalternização de negros e mulheres - isso não pode ser um bom sinal.
7. Observe atentamente como se estabelecem as relações - deve se assemelhar as relações em família;
8. Observe se o líder é o principal fomentador das "fofocas", "más palavras" e "conflitos" - se o for, já sabemos o que faz a liderança pelo exemplo;
9. Observe o nível de inteligência emocional do líder da Casa;
10. Pergunte de quem é a Casa. Se for do dono, pessoa física, não é Casa africana da divindade- se é do dono, já sabe que é do jeito dele e isso não é bom;
11. A Casa não é das pessoas, deve ser da família. É da divindade patrona e da família; ela é de todos;
12. Observe se tudo, nas mãos e na boca do líder, torna-se um inferno, um BO, um caso de polícia - isso não costuma ser bom.
Lista de Sidnei Barreto Nogueira
Foto: Roger Cipó - Olhar de um Cipó © Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved
14 de janeiro de 2016
A Realidade por trás da Tentativa de Proibição dos Sacrifícios Animais nos Cultos Religiosos
Não me causa espanto um projeto de lei que proponha proibir o sacrifício de animais em rituais religiosos. É um desdobramento previsível em um cenário político dominado pelo conservadorismo, racismo e por tentativas de imposição religiosa.
A suposta ideia de proibir o sacrifício supondo alguma política de proteção aos animais demonstra claramente como em uma sociedade desigual, preconceituosa e punitiva o uso das leis é predominantemente feito com o intuito de reforçar essas desigualdades. Traduzindo: as leis para brancos e para a cultura dominante são de uma forma e para negros e culturas não brancas são de outra.
A primeira coisa que precisamos entender é a seguinte: em uma sociedade laica ninguém é obrigado a ter a mesma visão espiritual sobre os animais “irracionais”. Ser vegetariano é uma opção individual. Então, vamos partir do princípio básico de que TODAS as pessoas têm direito a se alimentar de carne. Visto isso vamos lembrar o que na nossa realidade significa se alimentar de carne.
Alimentar-se de carne significa comer um animal. E para comer esse animal é preciso que ele esteja morto. Até os animais irracionais carnívoros matam suas presas para comê-las. Parece óbvio, mas para as pessoas que julgam o sacrifício animal nos ritos religiosos não é. A dificuldade de entender essa simples questão de matar para comer vem da intolerância religiosa, da discriminação e do preconceito que pressupõe quais crenças devem ser consideradas corretas e aceitas ou não.
Em geral nas religiões de matriz africana acredita-se que o processo de fortalecimento do espírito passa pela alimentação de diversas fontes de energia que podem ser minerais, vegetais ou animais, de acordo com os símbolos da cultura envolvida, o que ficou popularmente conhecido como oferenda. As oferendas envolvem não só o consumo dessas fontes de energias, mas também os rituais e as crenças de quais seres precisam realizar esse consumo. Rituais e crenças que envolvem o reconhecimento dos animais como seres com propriedades divinas e que por isso merecem ritos de demonstração de respeito e permissão para seu consumo.
O intuito aqui não é promover um esclarecimento sobre a simbologia das religiões de matriz africana, mas sim de mostrar que a tentativa de proibir o sacrifício de animais em rituais religiosos não visa à proteção dos animais e sim a criminalização do culto religioso. Nunca houve a proposta de se proibir o consumo de animais, mas sim o ritual religioso através do qual ele se desenvolve. Palavras como “crueldade” e “sofrimento” são usadas com o objetivo claro de moralizar as religiões de matriz africana, de atribuir a seus ritos ares de maldade e de julgar seus valores e crenças como ruins ou errados. E todos nós sabemos muito bem que essa é uma estratégia de dominação, de imposição cultural, racismo e intolerância religiosa.
Além de desrespeitar os valores e crenças de uma cultura religiosa essa tentativa é um esforço claro de moralizar um processo de consumo que é comum a toda sociedade, pois de uma forma geral toda a sociedade se alimenta de carne animal e mata animais para isso. O que os indivíduos que propõe a proibição do culto religioso tentam nos dizer é: você pode comer carne animal, mas não pode rezar, cantar ou matar esse animal com suas próprias mãos, ou seja, não pode expressar sua fé e principalmente, não pode baratear o custo desse consumo ou deixar de pagar por ele aos grandes produtores.
Se a preocupação fosse realmente com códigos de proteção ao animal seriam aprovadas leis para regulamentar a forma absurda como animais são criados nas grandes propriedades rurais. Nesses locais animais são criados totalmente presos, sem nenhum contato com o ambiente natural, forçados a reprodução e têm sua estrutura totalmente alterada por “anabolizantes” e medicamentos. O intuito dessa manipulação toda é baratear o custo de criação desses animais e aumentar ao máximo seu rendimento para se ter o maior lucro possível com sua comercialização. Os processos que envolvem a criação de animais nas indústrias de alimentação já foram apontados por organizações de proteção aos animais como absurdos e cruéis e inclusive prejudiciais a saúde humana em alguns casos. Mas a crença envolvida nesse caso é a do lucro e essa nunca é questionada.
Entra aí outra questão que incomoda os grandes produtores, referente ao sacrifício animal que acontece nos cultos religiosos: em geral os animais utilizados para consumo são oriundos de aviários de pequeno a médio porte, regionais ou até de criações caseiras. Essa relação direta entre pequenos e médios produtores e consumidores não é interessante ao agronegócio que tem interesse de dominar o mercado. E só para reforçar, sabemos que essa dominação do mercado de alimentos define inclusive quem na nossa sociedade pode ter privilégio de comer carne.
Com esses poucos argumentos já entendemos aqui que a questão de legislar sobre o sacrifício de animais nos cultos religiosos envolve interesses de grandes empresários reforçados pelo apoio de fundamentalistas religiosos que tentam violar o princípio básico de um estado laico para aumentar seus lucros e impor suas crenças. Eles alegam equivocadamente o intuito de proteger a vida animal, para na verdade retirar o direito à liberdade religiosa e se livrar das tentativas de produção econômica “desvinculadas” das grandes cadeias produtoras de gênero alimentício. Uma iniciativa intolerante, opressora e exploradora para obter lucro e violar direitos.
Texto de Monique Britto - originalmente publicado no Portal Geledés, em 13 de março de 2015.
Foto: Roger Cipó - Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados
7 de janeiro de 2016
7 de janeiro: Dia da Liberdade de Culto. Mas a Liberdade é pra quem mesmo?
Você sabia que, hoje o Brasil celebra o Dia da Liberdade de Culto?
A data foi escolhida para homenagear a primeira lei criada no Brasil
sobre a liberdade de culto, em 7 de janeiro de 1980, por iniciativa do gaúcho Demétrio
Ribeiro, Ministro da Agricultura naquela época.
Mas em um país tão contraditório e fundamentalista
como o Brasil, eu pergunto: Liberdade de culto é pra quem? Quem é que tem a
liberdade de gozar do artigo 5º da Constituição Federal de 1988?
Não quero falar de quem tem o direito a
tal privilégio. Chamo atenção para um grupo que a cada dia tem o direito em
questão desrespeitado e violentado pelo estado e sociedade civil.
Historicamente os terreiros de candomblé,
concebidos por descendentes de reinados africanos tem sido alvo do cerceamento,
opressão e sileciamento de seus cultos. Liberdade pra quem, Brasil?
Liberdade pra quem, em um país onde usar
roupas brancas que te coloca na mira de uma pedrada?
Liberdade de culto pra quem, quando os
símbolos sagrados são demonizados por outras crenças e menosprezado pelo
estado?
Por falar em estado: liberdade para quem,
se o estado não respeita a laicidade e institucionaliza a opressão à crença nos
Orixás?
Liberdade de Culto pra quem, quando tocar
os tambores sagrados pode ser considerado crime e repreendido pela polícia?
Liberdade de culto, para permitir que um
grupo de determinado seguimento invada um terreiro e hostilize uma sacerdotisa
até que a senhora infarte e morra?
Liberdade de culto, para quê se atearão
fogo nos territórios sagrados e deixaram bíblias como "recados"?
Muitos são os questionamentos a cerca da
pseudo liberdade de culto existente no Brasil. Se por um lado, a sociedade se
fundamentalizou em conceitos hegemônicos eurocêntricos para o opressão, por
outro, o estado acolheu tal prática e converteu as leis de direitos, em
marginalização da fé, sobretudo a fé em Divindades Negras, que se pauta em ensinamentos
milenares de relação e co-existência com a natureza, respeito à vida, à
ancestralidade e à diversidade. Conceitos jamais aceitos para uma estrutura tão
sub-desenvolvida, bem como noçiva à vida, como a sociedade brasileira.
Jorge Amado escreveu que “Ninguém
será privado de direitos por motivo de crença religiosa, convicção filosófica
ou política” (Carta Magna 1946), mas só esqueceu que
de dizer que ninguém será privado desde que não sejam negros, pobres,
periféricos e adeptxs de religiões de matriz africana. Mas na real, sabemos bem
pra quem Jorge Amado escreveu, com tantas idéias racistas e machista em suas
obras, para nós de matriz africana, que não foi.
É na contra-mão de tanta contradição e
devaneios conscientes de um tempo violentamente fundamentalista que convido
para a reflexão de tal dia. Existe mesmo liberdade de culto? Á quem permitimos
tal direito e como assegurarmos que o outro também exerça seu direito de Fé,
Crença e Culto com dignidade?
Ou aceitaremos que, por mais uma vez, uma
Lei criada para a dignificar a vida seja mais uma privilégio gozado por um
grupo de opressão?
6 de janeiro de 2016
Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa
Por Fábio Mariano e Roger Cipó
Em 2015 foram protagonizados contra
as crenças de matriz africana uma série de atentados de todas as ordens: contra
o patrimônio material e contra o patrimônio físico, moral e espiritual de
vários adeptos. Invasões desmedidas se perpetuaram contra terreiros onde se
cultuam orixás, culminando, inclusive, na morte de uma Ialorixá; agressões
físicas, dentre elas, a de uma criança que, em razão das vestimentas, foi
apedrejada, quando saía do terreiro; seguindo-se uma longa e imensa lista de
denúncias de injúrias, cerceamento de direitos no âmbito das práticas
religiosas, que englobam a realização de rituais sagrados dentro dos terreiros
e de natureza fúnebre.
Sob o manto do estado democrático e
de direito, a intolerância demonstrada das mais diversas formas não poupou
ninguém. Aquele que pratica a injúria não tem um objetivo maior, senão o de
dizer onde aquele que foi injuriado deve estar: no campo da invisibilidade. Não
a toa, o psiquiatra e filósofo Franzt Fanon escreveu em Peles Negras, Máscaras
Brancas que “(...)Enquanto o negro estiver em casa não precisará, salvo por
ocasião de pequenas lutas intestinas, confirmar seu ser diante do outro.”.
Assim como ocorreu com as mulheres que tiveram determinadas a sua presença no
âmbito da vida privada, restando aos homens as disputas no campo público, com
negros e não cristãos não ocorreu diferente as diversas formas de colonização e
exclusão. Combater a intolerância religiosa significa rejeitar o racismo como
sistema de opressão e dar corpo e voz a uma parcela da população que vem sendo
sistematicamente agredida em sua dignidade pelo cerceamento de direito de
liberdade de culto.
A questão da liberdade de religião e
de culto amplamente requerida pela população negra e pelos religiosos de matriz
africana deve ser vista sob a ótima da afirmação e reiteração da identidade
negra e de toda a sua ancestralidade. Negar esse direito, compactuar com esta
lógica é o mesmo que permitir que os tambores continuem abafados e os adeptos
das religiões de matriz africana permaneçam naquilo que o “outro” considera a
sua senzala – não há democracia racial, como não há respeito à diversidade
religiosa.
Em 2007, o dia 21 de janeiro foi
instituído como a data de Combate à Intolerância Religiosa, em reflexão e
memória da Ialorixá Gildásia dos Santos - vítima de um dos casos mais drásticos
de intolerância que a história brasileira conheceu. O crime começou em outubro
de 1999, quando O jornal Folha Universal estampou em sua capa uma a Mãe Gilda –
trajada com roupas de sacerdotisa para ilustrar uma matéria cujo título era:
“Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. Sua casa foi
invadida, seu marido foi agredido verbal e fisicamente, e seu Terreiro,
depredado por evangélicos. A Ialorixá não suportou os ataques e, após enfartar,
faleceu em 21 de janeiro de 2000.
15 anos após a trágica morte de mãe Gilda, a
história se repete, e em Camaçari/BA, Mãe Dede de Iansã, também enfarta após
uma noite se insultos protagonizada por um grupo evangélico, na porta de seu
terreiro.
Em resposta à tanta violência que,
assustadoramente, aumenta a cada dia e tem se mostrado uma das faces mais
cruéis do Racismo, comunidades de São Paulo se reunirão para um Ato de Repúdio,
Afirmação e Combate aos Crimes de Intolerância Religiosa, no próximo dia 21 de Janeiro, às 19H. Com concentração no
Vão do MASP, religiosxs e simpatizantes tomarão o "Coração financeiro da
Cidade" em grito pela Liberdade de Expressão da Fé, Direito à Crença e por
uma sociedade de Respeito ao Próximo, à Natureza e à Diversidade. Tomaremos as
Ruas pelo promoção da Cultura de Paz em nossas relações. Vista-se de Branco e
Junte-se a Nós! Essa Luta é de Tod@ Aquel@ que acredita que a Paz é o Caminho
para uma Vida Melhor!
Acesse o link oficial do evento, no facebook, confirme presença e compartilhe: https://www.facebook.com/events/947733955311269/
Fábio Mariano. Professor. Bacharel e
Mestre em Direito. Doutorando em Ciências Sociais pela PUC/SP, estuda a Dignidade
e o Direito à Morte na Sociedade Brasileira.
Roger Cipó. Fotógrafo-pesquisador. Educador Social. Militante contra os crimes de racismo e
intolerância religiosa.
Serviço: Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa
Data: 21 de Janeiro, às 19H
Local: Vão Livre do MASP - Avenida Paulista
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