31 de março de 2016

Mãe Beata de Yemonjá afirma que Não vai defender quem sempre submeteu o povo à Escravização



Hoje nossa pátria chora lágrimas de vergonha e tristeza ao perceber que nós não havíamos entendido o que é respeito e dignidade a nossa bandeira brasileira que é sagrada para muitos de nós.

Percebo que hoje a perfídia dos poderosos começam a se travestir em golpe politico com seus pactos de complô contra a Democracia, nos envolvendo em um mar de lama, como o que ocorreu em Mariana. Já não é suficiente toda esta sujeira, nos vemos ser arrastados pela manipulação midiática do poder da falsa informação aos incautos.

Mas eu, uma mulher negra e consciente de meus direitos não me deixarei abater em meus 85 anos de vida negra, onde sigo minha fé afro-brasileira rogando aos meus ancestrais e orixás, para que estes algozes com suas chibatas na mão, não ficarão impunes, pois Xangô é minha lei e justiceiro e não irá me trair nem ao meu povo.
Não passarão!

O golpe não terá uma plateia automática aplaudindo tal desdita nefasta e cruel, sou uma mulher e Iyalorixá do Candomblé, e viví a Ditadura Militar e o Estado Novo, onde minha cultura e religiosidade afro negra foi calada e  violentada durante décadas da atualidade e séculos passados com a Escravidão.

Hoje a Censura e Ditadura à nós é contemporânea e portanto, dissimulada, pois usam novas linguagens racistas, fascistas para nos iludir e controlar.
Povos de Terreiro e Matrizes Africanas, não estou aqui para defender o lado dos que sempre nos submeteram e nos dominaram, colocando nosso povo em situação de escravização moderna.
Mulheres negras, brancas, indígenas, mas antes de tudo mulheres, somos a representação da vida, pois a geramos. Não sejamos omissas e coniventes com este Golpe vergonhoso que o poder senhorial quer de novo nos impor, como peças baratas de mercado.

“A carne mais barata do mercado é a carne negra”

Não irei compactuar com o genocídio da população negra, o feminicidio de nós mulheres, o racismo, a intolerância religiosa e a homofobia e lesbofobia.

Este Golpe vergonhoso representa o retrocesso de conquistas de Direitos Humanos e está em nossa Constituição Federal, portanto, o pleno exercício de nossa Democracia.
Não me deixarei ser usada por uma classe autoritária que não quer que tenhamos acessos a direitos, que antes só eram permitidos a privilegiados e os ditos bem nascidos, mas foram estas castas arrogantes que escravizaram nossas mentes e vidas até os dias de hoje.
Que minha mãe Iyemonjá Ogunté, alimente e frutifique nossas cabeças para dias melhores em nossas tão árduas vidas cidadãs!
Viva o meu Brasil, Viva a Democracia!
Não ao Golpe a vida!

Beatriz Moreira Costa



28 de março de 2016

Sobre Relações de Família e Fidelidade de Asè (Papo de Esteira)

Há dias que eu tenho pensado sobre as relações de famílias de Asè. Até tentei escrever um texto sobre, mas, por "n" motivos, ainda não saiu. Encontrei esse texto na página Papo de Esteira, e compartilho. Obvio que o Candomblé não se isenta das influências de uma sociedade de superficialidades, contradições constantes, e a banalização da vida e das relações sociais, mas uma das coisas mais bonitas da educação de Asè, ao meu ver, é a ligação que criamos (ou podemos criar) com a comunidade que constitui nosso Família de Santo.  




FIDELIDADE DE ASÈ

Fulano, se você não consegue ser fiel ao seu Òrìsà, conseguirá ser a si mesmo?

Ciclano, você não pode fazer esse tipo de comentários, não sabe guardar segredos não? Minha filha, você foi olhar búzios em outra casa por que? Não confia em mim não? Filhinho, está certo você sair por ai falando mal do Asè que você se iniciou?

Um tema bastante complexo e também muito difícil nos dias de hoje, onde o mundo tem perdido muito o significado de família, de união e consequentemente de fidelidade, mas mesmo assim é preciso dizer, é preciso relembrar e reviver tudo isso, pois pelo menos no nosso Candomblé, temos uma oportunidade de salvar este valor.

Candomblé simboliza a família e a iniciação de um adepto cria este vinculo de família. O candomblé é uma corrente onde o mais velho puxa o mais novo e assim sucessivamente. É importante que não se quebre a corrente. Precisamos entender isso, o conceito família do candomblé é o que nos mantem em pé. Nossa ligação esta acima de valores apenas humanos, passa a existir, até mesmo pelos atos praticados à ligação entre os filhos como irmãos, temos agora em nossas vidas nosso Òrìsà. Quando começamos a entender este conceito, a fidelidade começa a fazer parte, porque neste espaço e entre estes irmãos e família, nos sentimos seguros. É preciso pensar e repensar se devemos mesmo quebrar esta corrente, pode ser prejudicial pra nós mesmos, pro Asè, e pra família em um todo.





Muitas vezes, será que é necessário um filho se afastar de sua família por motivos pequenos? Será que não se pode haver o diálogo, tentar se acertar? Entendo que onde devemos mais ter a pratica do perdão é dentro de casa! É preciso ceder, é preciso compreender, é preciso tentar se acertar. Como exemplo todos aqui tem família, enquanto crianças quantas e quantas brigas não tivemos com nossos irmãos carnais e nunca deixamos de ser irmãos e nos amamos mesmo assim? Pensemos.

Em contrapartida, é verdade que existe a lei do livre arbítrio, todos tem o direito de ir e vir, mas é importante que avaliemos muito referente a isso, pra não tomarmos uma atitude errada. O diálogo, a conversa, o entendimento, a compreensão, o perdão, são necessários, não podemos deixar que nosso ego, nosso orgulho ferido por coisas bobas tome conta neste momento, é preciso superar, é preciso olhar pra frente, para o bem de todos, é necessário exercer o perdão ou ter humildade para se desculpar em busca de um bem maior para todos, que é a união da família.





É importante destacar que a fidelidade deve ser vista por dois lados, tanto o filho de santo com sua Casa, seus irmãos e seu Pai/Mãe de Santo, quanto o contrário, não podemos fechar os olhos para isso, todos devem se dar o devido valor e assim o respeito, e o conceito família novamente impera e a fidelidade ficará mais fácil de acontecer, porque neste ambiente existe confiança.

Claro que, em alguns casos, não tem jeito, não tem conserto, e então ninguém deve ficar preso, afinal lutamos tanto por liberdade, por que se sentir preso não é mesmo? Porém precisamos pensar e repensar muito antes de uma atitude como esta, e principalmente, verificar a real vontade do Òrìsà, e tenho certeza que o mesmo não quer que seu filho viva infeliz. Caso não exista condições de se manter fiel, acredito que ainda assim deve se manter uma ética e respeito! Também é importante se manter fiel aos segredos deste Asè e os segredos de quarto de santo e tudo mais.

Olorun a gbe wa o
Papo de Esteira
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Texto Extraído da Página Papo de Esteira 
Fotos: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

17 de março de 2016

Quando uma menina de 14 anos resolve escrever o que é candomblé para combater a Intolerância



Cansada de ter que justificar suas convicções religiosas, a todo momento, a brasiliense de 14 anos, Izabelle Aymee resolveu escrever o que é candomblé para combater a Intolerância Religiosa, através da informação compartilhada. De formas simples e educada, a menina, filha de Bessen explica o seu olhar para a religião dos orixás.

Sobre Izabelle, eu sugiro: Guardem esse nome (Acompanhe também o perfil dela no Facebook). Ela é uma jovem força de Combate à Intolerância Religiosa no ambiente escolar. - Mas isso é uma outra publicação, que em breve, a gente conta. 
Segue o texto: 

Escrevi esse texto com um único objetivo: explicar o que é o candomblé para aqueles que não possuem conhecimento sobre a religião.
Gostaria que vocês tirassem alguns minutos para ler e tirar, pelo menos, parte das duvidas que vocês possuem sobre o candomblé. E por favor, se alguém te fizer alguma dessas perguntas, mostre esse texto. Tenho certeza que não restarão duvidas.
 
O candomblé ainda é uma religião bastante discriminada por grande parte das pessoas, isso devido ao que a mídia mostra e os tais "pais de encosto" que, para conseguir fama nas igrejas, inventaram historias sem pé nem cabeça. Então decidi escrever um pouco sobre isso e ajudar de alguma forma, aqueles da religião, principalmente os mais novos, a terem argumentos para defender sua fé. Abaixo contem perguntas,algumas que eu já escutei até mesmo de "novatos" no candomblé,por estarem cheios de dúvidas ainda e não terem tanto conhecimento.. E outras que escuto diariamente. 







- O que é o candomblé? 
É uma religião de origem africana,que cultua a ancestralidade e os Orixás. 

- No candomblé,existe um Deus principal? 
Sim,o chamamos de Olodumaré / Olorun, o criador - o senhor do céu, e ele nos colocou aos cuidados dos Orixás, que são nossos intermediadores. 

- Mas se existe um Deus,porque vocês tem os Orixás? 
Os Orixás são divindades da natureza,portanto,são mais próximos de nós,e assim eles se "comportam",ou melhor,são os nossos pais! Ou seja,nos educam e nos ensinam a conhecer nossas qualidades e defeitos. 

- E sobre matar animais? 
O sacrifício de animais, tem como objetivo dividir com Deus o resultado do nosso trabalho. É uma tradição trazida da África. Contudo, respeitamos a natureza e só é retirado aquilo que for consumido. Tudo é feito em um longo ritual, quando pedimos Agô (licença) à natureza, em que rezamos antes, durante e depois de seu sacrifício, por retirar aquela vida, que é muito importante, por ser um ser vivo.
E não benzinho,nós não sacrificamos gatos, cachorros... Nem nada disso. Os animais que são sacrificados, são os mesmos que compõe a mesa do almoço e jantar. Até porque, parte do ritual é se alimentar daquela carne que após ofertada aos Orixas, se torna ainda mais sagrada.

- Porque vocês vestem aquelas roupas engraçadas? 
Bom, pelo que eu sei, as saias longas são mantidas dos tempos coloniais. O pano que envolve o seio e o ventre das mulheres,chama-se pano da costa. E o pano que cobre a cabeça,é usado por acreditarmos que a força maior esteja no Ori (cabeça), ou seja, uma forma de proteção,de "guardar" a cabeça. 

- E porque tem que raspar a cabeça? 
É porque, quando fazemos o santo, quando nos iniciamos no candomblé. Significa renascimento, de abdicação da vaidade pela fé, o de buscamos nos "conectar" totalmente ao nosso Orixá. E vou te falar:  Quando é por amor, como é o meu caso, você nem liga para cabelo! Ah, e lembrando: NÃO SÃO TODAS as pessoas do candomblé que precisam raspar a cabeça,na religião, existem os Yaôs, as Ekedes e os Ogãs,cada um com a sua "função" e desses, somente o Yaô, e alguns Ogans e Ekedes raspam as cabeças. 



- O candomblé pertence ao diabo? 
É como eu sempre digo: nós do candomblé, sequer acreditamos no tal coisa ruim. Fiquem tranquilos que ele é exclusividade da mitologia cristã. Nós não temos essa força inimiga dentro de nosso culto.

- E Esú? 
Esú é uma divindade mensageira, ligada à sexualidade e a semelhança da natureza. Costumo dizer que ele é o reflexo das pessoas, e por isso, o motivo delas o temerem tanto, por ele apenas reflete o que nós somos realmente. Ele é luz e escuridão, como tudo o que existe, inclusive nós. O que aprendemos dentro do candomblé é a equilibrarmos essas forças. 

- Por que vocês "se cortam"?
Esses cortes, nós chamamos de "Cura", e ela tem como objetivo proteger nossos corpos de toda a influencia negativa. 


- Se o Orixá é um Deus, porque quando vocês os recebem, se abaixam para os humanos? 
Acredito que o Orixá é uma inteligência superior, e como pais, eles dão exemplo, ou seja, quando estão manifestados, demonstram gratidão, humildade e amor aos seus filhos. Quando ele se abaixa é um sinal de estar colocando seu filho ao cuidado daquele determinado sacerdote, que defende e se dedica a cuidar do seu filho. 



Texto: Izabelle Aymee 
Fotos: Acervo pessoa de Izabelle Aymee 

7 de março de 2016

As Mulheres do Axé e a Microcefalia.





Por: Grupo Ìkórítá



Oxum, o Yèyé ní mó! 
(Oxum graciosa mãe, plena de sabedoria). 

A gestação é divina obra a qual tem como orientadora maior, a nossa Mãe Oxum. No seu colo nasce a gestação e a orientação para o afeto, que cada um deposita naquele novo familiar, que na sua vinda, traz em si, a continuidade da nossa ancestralidade. A mulher grávida tem acesso ao conhecimento que pertence as nossas Mães, que são a dimensão da vida.

Ìyá omi ní ibú. Odò omi rò Òrìṣà ó lé lé

(Mães das águas profundas, das águas dos rios. É o orixá acima da nossa casa)

Ao homem, seu parceiro, se abrirá a face mais serena e profunda do amor de Obatalá a sua criação.
Toda gestação é festejada e celebrada no terreiro, pois é mais um elo que se faz entre a eternidade e a ancestralidade presente no chão da casa, nos ecos dos tambores sagrados e no aconchego dos pais, mães e irmãos que zelam pela religiosidade afro-brasileira. Hoje, o engravidar está sendo acompanhado de felicidade, mas com muita preocupação, para as mães e pais, devido as consequências pela falta de ação efetiva de toda sociedade e governo, na prevenção do Aedes Aegypti, tão conhecido, mas que trouxe à luz, uma doença não tão falada assim – a Microcefalia.
Como povo do axé, percebemos que nossas casas são espaços para a promoção da saúde e cidadania, sendo assim, vamos conhecer um pouco mais da Microcefalia:

A microcefalia é uma doença em que a cabeça e o cérebro das crianças são menores do que o normal para a sua idade, o que prejudica o seu desenvolvimento mental, porque os ossos da cabeça, que ao nascimento estão separados, se unem muito cedo, impedindo que o cérebro cresça e desenvolva suas capacidades normalmente.

A criança com microcefalia pode precisar de cuidados por toda a vida, mas isso é normalmente confirmado depois do primeiro ano de vida e irá depender muito do quanto o cérebro conseguiu se desenvolver e que partes do cérebro estão mais comprometidas. As consequências da microcefalia são: atraso mental, déficit intelectual, paralisia, convulsões, epilepsia, autismo, rigidez dos músculos.




Máa bọ̀ ya, ìyá bọ̀ ya. Omi jẹ́jẹ́ Ominíbú. Máa bọ̀ ya, ìyá bọ̀ ya.

(Frequentemente ela vem ligeira. Mãe das águas calmas, mas das águas profundas. Frequentemente ela vem ligeira).

As causas da microcefalia podem incluir doenças genéticas ou infecciosas, exposição a substâncias tóxicas ou desnutrição, tais como: rubéola, citomegalovírus e toxoplasmose, Zika durante a gravidez, especialmente no primeiro trimestre de gestação, cigarro, álcool ou drogas como cocaína e heroína durante a gravidez, Síndrome de Rett, envenenamento por mercúrio ou cobre, meningite, desnutrição, AIDS, doenças metabólicas na mãe como fenilcetonúria, exposição à radiação durante a gestação, uso de medicamentos contra epilepsia, hepatite ou câncer, nos primeiros 3 meses de gravidez.

Acredita-se que infecções como dengue e febre chikungunya durante a gestação também estejam ligadas à microcefalia. Também é sabido a existência de casos de aborto e natimortos, relacionados à dengue em gestantes, sendo assim, a gestante passa a ser uma população altamente vulnerável ao mosquito, pois a sua infecção poder gerar mais sequelas à mãe e ao bebe.
Os sintomas mais comuns são: febre, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, perda do paladar e apetite, manchas vermelhas, náuseas e vômitos, cansaço, moleza, dores no corpo e nas articulações.

É necessário cuidarmos de nossos terreiros, evitando a criação ou permanência de criadouros dos mosquitos, com algumas atitudes preventivas tais como: retirar a água parada que se acumula nos vasos das plantas, dos alguidares e todo recipiente que possa acumular água da chuva (latas, caneca, baldes, calhas de telhado, entre outros); tampar os potes, quartinhas e quartilhões. Todas as águas são sagradas, por isso devem ser zeladas com respeito e, quando a acumulamos dentro de nossas casas para uma finalidade sagrada, devemos protegê-las da dengue.

Diagnóstico da microcefalia: pode ser feito durante a gestação, com os exames do pré-natal, e pode ser confirmado logo após o parto através da medição do tamanho da cabeça do bebê. Exames como tomografia computadorizada ou ressonância magnética cerebral também ajudam a medir a gravidade da microcefalia e quais serão suas possíveis consequências para o desenvolvimento do bebê.

Microcefalia não tem cura: porque o fator que impede o desenvolvimento cerebral, que é a união precoce dos ossos que forma o crânio, não pode ser retirado. Se esta união precoce dos ossos acontecer ainda durante a gestação, as consequências podem ser mais graves porque o cérebro pouco se desenvolve, mas existem casos em que a união destes ossos ocorre no final da gestação ou após o nascimento, e neste caso a criança pode ter consequências menos graves.

O Tratamento para microcefalia: não cura a doença, porém ajuda a reduzir as consequências no desenvolvimento mental da criança com o uso de medicamentos que ajudam no seu dia a dia, que atuam diminuindo os espasmos musculares e melhoram a tensão dos músculos. A fisioterapia é indicada e pode ajudar no desenvolvimento físico e mental e por isso quanto mais estímulo dentro da fisioterapia a criança tiver, melhores serão os resultados. Para um bom tratamento, é interessante que a equipe de referência seja formada por pediatra, neurologista, psicólogo, dentista, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo. As casas sagradas das religiões afro-brasileiras são, por excelência, um espaço de escuta e acolhimento às dores da alma e do corpo, para todos que procuram ou para quem vive entre suas paredes. A família do terreiro pode ser um grande suporte a família no tratamento da criança.





O Ministério da Saúde, recomenda que as gestantes: devem ter a sua gestação acompanhada em consultas pré-natal, realizando todos os exames recomendados pelo seu médico; não devem consumir bebidas alcoólicas ou qualquer tipo de drogas; não utilizar medicamentos sem a orientação médica; evitar contato com pessoas com febre, exantema ou rash cutâneo (manchas vermelhas causadas por infecções ou efeito colateral de medicamentos - são as famosas manchas causadas por sarampo, escarlatina, rubéola e catapora) e outras infecções.

O enfrentamento para a redução dos casos de microcefalia, somente será possível se toda sociedade se envolver nas ações para eliminação dos criadouros do mosquito Aedes Aegypti e, criando medidas de proteção da gestante nos locais de moradia, socialização, trabalho e religião, tais como o uso de repelentes recomendados pelo médico (não vale aquelas receitas caseiras de álcool com cravo – “repelentes naturais”), evitar lugares que tenham muitos casos de microcefalia, pelo menos, neste momento de batalha. Enfim, se informar com os profissionais e agentes de saúde, abrindo as portas de nossas casas e nossos terreiros para consolidação das ações de eliminação e prevenção das doenças relacionadas a dengue, Zika e o chikungunya.




Igbá ìyawó, igbá Ọ̀ṣun. Ó rẹ́wà! Àwa sín ẹki igbá rẹ́wà, rẹ́wà. Igbá ìyawó, igbá Ọ̀ṣun ó rẹ́wà

(A cabaça da noiva é a cabaça de Ọ̀ṣun. Ela é linda! Nós a acompanhamos em aclamação à cabaça que é linda, linda. A cabaça da noiva é a cabaça de Ọ̀ṣun. Ela é linda!)


Texto: Grupo Ìkórítá
Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved



Sites de referência e informações:
www.tuasaude.com
www.combateaedes.saude.gov.br

2 de março de 2016

"As coisas estão ruins. Deve ser macumba" O Pensamento e Discurso Intolerantes



Quando nada vai bem, a sorte te vira as costas e o azar ri da sua cara, o que você pensa?

Eu estava na sala de reunião, quando uma colega começou relatar seus problemas e finalizou: "parece que é macumba... só pode!"

Parei, pensei e entendi que, por melhor instruída que é, minha colega traz em sua educação um vocabulário intolerante que nem ela mesmo percebe. Consciente, ou não, reproduz um comportamento de intolerância religiosa, e precisamos falar sobre  isso.
Engana-se quem pensa que Intolerância Religiosa é só a violência física, verbal ou psicológica contra a crença de alguém. Se eu puder listar, diria que a explosão em violência é o cume da agressão, e se não quisermos chegar ao extremo, preciso entender que, até agora, só falamos da ponta do iceberg. Obvio que a violência declarada choca (ou não) e nos coloca em movimento. Mas e a violência naturalizada?

O antropólogo e professor congolês naturalizado brasileiro,  Kabengele Munanga afirma que o "Racismo no Brasil é um crime Perfeito". Inspirado nessa afirmação, o antropólogo Gill Sampaio Ominirò diz que a intolerância religiosa também é um crime perfeito (artigo 208 do Código Penal Brasileiro), "pois é possível ser intolerante com um olhar". Quantos de nós, adeptos do Candomblé ou Umbanda , não somos mal olhados ao chegar em um espaço público vestido de branco e/ou ostentando fios de contas? Já no olhar, identificamos a aversão aos nossos símbolos e é como se ouvíssemos o xingar saltar os olhos, mesmo que o agressor mantenha a boca fechada. Sutilmente, a intolerância religiosa está presente no pensamento, postura e simples ações.

Assim, a demonização da crença, ritos e símbolos de nossa cultura religiosa se faz também em simples palavras. Como disse, minha amiga atribui-se a má sorte à uma possível macumba feita. Sua fala relaciona as coisas ruins acontecidas em rituais da Umbanda e Candomblé. Mesmo conhecendo o verdadeiro significado da palavra "macumba", sabemos que se trata de uma expressão socialmente intolerante.


Quem nunca ouvir alguém dizer que a criança, ou o amigo agitado está com Exú no corpo, ou é um Exú? "É aquela pessoa chata que 'exuriza' sua vida". E já ouviu dizer que iria no terreiro só para "bater um tambor" e afastar alguém?
Há os clássicos de fim de ano: "Tão ruim, que nem Iemanjá aceita", ou até mesmo "volta para o mar, oferenda", ou o corriqueiro: "tinha que ser macumbeir@"

No combate ao racismo, atentamos para a importância de descolonizar o vocabulário. Pois desde a infância,nos foram ensinadas palavras  e expressões com significados ou criações racistas que parecem inofensivas, mas que, em uso só fazem manter estruturas e comportamentos racistas: Mulata, Denegrir, Dia de Preto, da Cor do Pecado, Nasceu com o Pé na Cozinha, entre outras... A lista é grande, e representa uma educação opressora, herdada do regime de escravidão.

Seguir uma linha de pensamento não ofensivo, cuja base seja o respeito e não se utilizar de palavras e expressões intolerantes é também caminho para se combater a violência contra as religiões de matriz africana ou outros seguimentos que sofrem perseguição ideológica.

É importante se reeducar para não reproduzir o preconceito embutido no inconsciente coletivo da sociedade, quebrar este ciclo vicioso de continuidade no uso de piadas desnecessárias e ofensivas. Mais que isso, é importante o uso de expressões, frases e até "brincadeiras afirmativas", pelas quais seja possível desconstruir as estruturas de violência para construir pontes de respeito e de comunicação não-violenta.

Texto e Foto: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved