Carta que foi elaborada
por representantes de comunidades de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e
Bahia, é um alerta sobre os perigos do atual cenário político para as tradições afro-brasileiras, e será enviada à Brasília.
Na noite de quarta-feira (13/04), religiosxs do Candomblé e
Umbanda e o Professor Eduardo Suplicy (Eterno Senador, como lembrado por lideranças
religiosas presentes) se reuniram para o lançamento do Manifesto do Povo de Axé
Contra o Golpe a Democracia, no Templo de Culto Sagrado Tata Pércio do
Battistini, popularmente conhecido como Axé Battistini (SBC - SP). Não por
acaso, a quarta-feira foi escolhida por ser dia de reverências a Xangô, a
divindade iorubá da justiça, que como lembrado pela Iya Egbé Daniele de Oxum, é
também o ancestral político: "Xangô
tinha doze ministros. Xangô já fazia política!".
O Manifesto do Povo e Axé Contra o Golpe a Democracia, foi organizado, escrito e assinado por religios@s de estados como São Paulo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, e tem como objetivo alertar candomblecistas e
umbandistas sobre os perigos do atual cenário político para as comunidades de
terreiro que historicamente são perseguidas e violentas por um regime de poder
fundamentalista, e denuncia a violência contra a mulher. O texto fala também dos
avanços e conquistas de direitos protagonizados pelos movimentos sociais, para igualdade de direito e dignidade à vida.
Em honra a Xango e Airá, o patrono do terreiro, o evento iniciou
com a cerimônia do Amalá, oferenda à divindade para clamar por discernimento e justiça
pela paz social. Após cânticos e rezas no templo de Xangô, a sacerdotisa
Iyalorixá Luizinha de Nana e os demais dirigentes, Iya Egbé Daniele e os Babás Giba e Carlinhos, acompanharam o Ex-Secretário de Direitos Humanos do Município
de São Paulo, Eduardo Suplicy ao Memorial Tatá Pércio, onde apresentaram a
história do terreiro que é tombado patrimônio cultural material de São Bernardo
do Campo.
"Acho da maior
importância que todas as comunidades de terreiros, de axé, de São Paulo, da
Bahia e de outros estados brasileiros tenham assinado esse manifesto em defesa
da democracia, em defesa do respeito ao resultado das urnas de 2014, quando a
Presidenta Dilma Rousseff, por cerca de 54 milhões de votos, foi eleita para seu segundo mandato." - Concluiu
Suplicy, que após assinar o manifesto, recitou "Homem na Estrada" dos
Racionais Mc's, e se encarregou de enviar uma segunda carta à Presidenta
falando da importância do documento criado pelas comunidades de terreiro.
O Manifesto do Povo e Axé Contra o Golpe a Democracia se
mantém aberto para o engajamento de religios@s do país, antes de
seguir para Brasília. Segundo a Iyalorixá Luciana de Oyá, um objetivo
importante dessa ação é despertar a necessidade de participação de mais
Candomblecistas e Umbandistas, em outros espaços políticos porque, na prática, os
terreiros já fazem políticas educacionais, culturais, sociais, e precisam ter consciência disso".
Interessados em assinar o Manifesto podem enviar e-mail com nome completo, nome do terreiro, cidade e estado, para rluciana.lms.pju@gmail.com ou eduardo-aires@usp.br
Confira o texto do manifesto, na íntegra:
Confira o texto do manifesto, na íntegra:
Mesmo existindo posicionamentos diferentes entre nós a
respeito da situação política atual, convidamos a todos para uma reflexão.
Por que será que o Brasil, desde nossos ancestrais até
chegar ao poder um afro-descendente nordestino e uma mulher, sempre esteve
preso às ordens do FMI e dos Estados Unidos? Por que será que antes o filho do
trabalhador não tinha acesso ao Enem, Prouni, Fies e Pronatec? Por que o
salário mínimo era inferior a 100 dólares? Por que as mulheres não tinham seus
direitos assegurados em leis como a Maria da Penha e as empregadas domésticas,
muitas vezes obrigadas a deixar seus filhos na rua para cuidar dos filhos das
patroas, só agora puderam ter os direitos trabalhistas garantidos? Por que
investigações sobre pessoas da classe dominante e políticos eram arquivadas?
Por que as pessoas não podiam se organizar conforme sua orientação sexual? Por
que mesmo trabalhando em dois empregos as pessoas não tinham acesso a bens como
automóvel, nem a planos de saúde ou financiamento da casa própria? Por que só
agora 40 milhões de famílias foram tiradas da extrema pobreza?
Será que o fato da mídia no Brasil estar nas mãos de meia
dúzia de pessoas não faz com que queiram derrubar aqueles se recusam a defender
seus interesses? Será que o projeto de poder da bancada evangélica contribui
para a manutenção de nossos direitos?
Reconhecemos que há uma instabilidade política e econômica
em razão da não-percepção do quanto a crise internacional afeta o Brasil e isso
se somou aos acontecimentos que temos assistido por parte dos que não aceitam a
derrota nas eleições de 2014. De forma democrática, a vontade de mais de 54
milhões de brasileiros, entre os quais muitos trabalhadores, distribuídos em
diversos grupos, como negros, indígenas, mulheres, LGBTTs, movimentos sociais
variados, foram o "fiel da balança" numa eleição extremamente
disputada. Contudo, alguns veículos de comunicação têm espalhado um certo
terrorismo na sociedade, causando confusão generalizada já visando 2018.
Considerando tudo que foi dito, é nossa responsabilidade
decidir o papel de cada um e de todos no cenário político atual. Devemos tomar
uma posição, pois religião e política se discutem, sim; ainda mais com a
responsabilidade que os sacerdotes têm em auxiliar as pessoas tanto espiritual
quanto psicologicamente.
Neste momento, falam como se tudo fosse competência da
Presidente da República, mas se realmente fosse responsável por tudo, por que
elegeríamos senadores, deputados, governadores, prefeitos e vereadores? Segundo
o Ministro Marco Aurélio, do STF, nossa Constituição prevê a possibilidade de
impeachment. Mas não havendo base legal, como é o caso desse pedido que tramita
no Congresso, pode ser interpretado como um golpe. Trata-se, portanto, de um
desrespeito ao Estado Democrático de Direito, que vem atropelando todas as
instâncias jurídicas e o bom senso, colocando em risco, inclusive, a segurança
nacional.
Portanto, se nossa bandeira é verde e amarela, o sangue que
nossos ancestrais derramaram pelo Brasil é vermelho e continuará sendo vermelho
o sangue dos nossos filhos e netos, que representam nosso respeito à
pluralidade ideológica, seja de crenças, seja de opções de vida. Não podemos
permitir que nossos descendentes regressem à mesma situação de anos atrás.
Nosso posicionamento político enquanto religiões de matrizes africanas é
fundamental, e é preciso considerar todas as conquistas dos últimos anos, como
secretarias voltadas para assuntos do povo negro e das tradições dos povos de
Axé; ações do Ministério da Cultura, por meio de suas instituições (como Iphan
e Fundação Palmares); conquistas na educação (como a Lei 10.639); políticas de
cotas e de promoção da igualdade racial. Além de tudo isso, o direito de
praticar nosso culto sagrado sob a proteção da Constituição Federal.
Essas conquistas democráticas correm risco. Não podemos
hesitar nem ficar inertes enquanto outros países e instituições, como ONU, OEA,
ONU Mulher, França, Espanha, Itália, Vaticano, se pronunciaram contra essa
tentativa de golpe. Devemos jogar nossa água na rua e pedir a Exu que permita a
nosso Ori ter sabedoria, assim como quando nos escolheu, juntamente com nossos
Odus e Orixás, para vivermos aqui na Terra. E a nossa ancestralidade, que nos
transmitiu exemplos de fé e resistência.
Assinar este manifesto contra o golpe é defender a
Democracia. Apoiar este manifesto é garantir direitos conquistados com anos de
luta. Ser contra o golpe é ser contra a discriminação de todos os negros,
indígenas, LGBTTs e principalmente mulheres, que também são desrespeitadas
quando agridem a Presidenta Dilma Rousseff. Sendo assim, não somos a favor de
maus feitos ou desgovernança, mas devemos vigiar a todos que escolhemos por
meio do voto e renovar, ou não, democraticamente, esses mandatos nas eleições
de 2018.
Independentemente de posições partidárias, evocamos Xangô,
Orixá da Justiça, sobre todos aqueles que buscam artifícios para enganar o
próximo. Que sejam os primeiros a sentir o peso do seu machado – que não
permitirá que nenhuma injustiça seja praticada contra aqueles que não se
acovardaram em momento de decisões difíceis.
JUNTOS SOMOS MAIS FORTES
“Viver Significa Tomar Partido” (Gramimsci)
Leia também outros posicionamentos:
- Mãe Beata de Yemojá
- Grupo Ìkórítá
Matéria e Fotos: Roger Cipó - Olhar de um Cipó
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Materia linda ❤
ResponderExcluirObá nixe Kaô Kabecile!
Que coisa maravilhosa!
ResponderExcluirNÃO VAI TER GOLPE!
Saravá
ResponderExcluirase que o Rei de Oyo, Detentor da Justiça.. que Sango olhe por nós e por todos os brasileiros!
ResponderExcluirassinei com prazer e nossa FUCABRAD assinou tambem
ResponderExcluirjuntos contra o GOLPE