4 de setembro de 2018

Jurista e filha de Oxum, Ingrid Limeira lança o livro "Da escravidão do Corpo à Escravidão da Alma: : Racismo e intolerância religiosa"



Vivemos um tempo que, ainda que marcado pelo aumento da cultura de ódio e de atentados contra os direitos sociais, é também marcado pela insistência e resistência dos povos de terreiro, em diferentes áreas de atuação, de expressão e posicionamentos.  É o tempo em que as produções de denúncias, estudos e reconstrução da história são cada vez mais recorrentes. Para nossa felicidade e para a nossa possibilidade de reconstruir os diálogos sociais, descortinando as verdades absolutas, questionando as estruturas e re-apresentando outros olhares para a história do povo afro-brasileiro, no Brasil. 

É também desse lugar que parte "Da escravidão do corpo à escravidão da alma: Racismo e intolerância religiosa", de Ingrid Limeira. 

Tema de seu tcc, o texto foi selecionado para publicação no edital de chamamento de trabalhos originais acadêmicos da Editora Letramento, e já está em pré-venda desde o último dia 03 de setembro de 2018, no site da editora. Ainda sobre o processo, Ingrid lembra: "a faculdade não queria aceitar o projeto alegando que não era um tema jurídico, tive que enviar e-mail para o MEC, comissão de educação da OAB, conseguir um orientador de fora da instituição e até mesmo encaminha um oficio da Defensoria Publica para a reitoria da faculdade". 

O livro realiza uma análise sobre a escravidão, o racismo e a intolerância religiosa no Brasil. Demonstra toda a violência institucionalizada em um país que, apesar de conter a laicidade religiosa em sua Constituição, não pratica o respeito aos povos em diáspora africana. Para a escritora, a escravidão deixou marcas que ainda são sentidas por seus descendentes, a inércia e omissão dos poderes, legislativos e judiciários, na proteção da população negra do país, inclusive sua religião. No livro, a jurista filha de Oxum, evidencia que intolerância religiosa é, na verdade, racismo, um racismo religioso, compreendido pelo ódio a tudo que é relacionado a cultura negra. 

Consciente da importância da publicação, a autora que está preparando um evento de lançamento físico do livro, reflete: "A sensação hoje é de grande vitória, olha pra trás e senti que cada lágrima derramada valeu a pena, sensação de reconhecimento. O Direito é um lugar racista, elitista, branco e cristão. Não se dialoga sobre minorias, principalmente racismo. Agora eles terão que nos ler, dialogar sobre as nossas dores, reconhecer os erros e a omissão para com o nosso povo." e conclui: "Faria tudo outra vez!"


Para mais informações e reservas do exemplar, clique em Da escravidão do corpo à escravidão da alma: Racismo e intolerância religiosa



Ingrid Limeira. Acervo pessoal



Pós-graduanda em Direito das Diversidades sexual, racial e religiosa, formada em Direito e Fundadora do Instituto de Direitos Humanos – Objetivando Direito. Desenvolve o Projeto “O Direito e as Diversidades” à frente do Centro de de Formação Jurídica Popular V de Outubro, é ativista dos Direitos Humanos e filha de Osun.










5 de agosto de 2018

Marcha por liberdade religiosa ocupará a Avenida Paulista

Na foto: Nega Duda, por Roger Cipó.



Comunidades de terreiro protestarão contra proibição do abate religioso, que será
julgado pelo STF no próximo dia 9.


Na próxima quarta-feira, (08) será realizada a Marcha das Religiões Afro-brasileiras pela Liberdade Religiosa, que tem concentração marcada para às 18h, no Vão do MASP.

A marcha, convocada pelos adeptos do candomblé e outras tradições de matriz africana, tomará a Avenida Paulista, no dia dedicado a Xangô, quarta-feira, orixá da justiça, para denunciar uma série de violências cometidas contra a religiosidade negra, com foco no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 494601 do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que será votado pelo Superior Tribunal Federal, no próximo dia 09 de agosto, para contestar a legitimidade da lei gaúcha que, em 2004, declarou legal e constitucional o
abate religioso, nas religiões afro-brasileiras.

Segundo a organização da Marcha, o Recurso representa um atentado direto à laicidade e ao Estado Democrático de Direito e ainda afirmam que se trata de racismo, pois o objetivo do RE não é o fim do abate religioso, uma vez que o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de carne sacralizada das Américas e legitima o abate destinado aos rituais religiosos muçulmanos. 

São esperados cerca de 3 mil pessoas entre religiosos e ativistas dos direitos
humanos. Além de São Paulo, cidades como Rio de Janeiro, Salvador, e
Londrina confirmam marcha em repúdio ao RE 494601 e ao racismo religioso.

Em vídeo, o Ex-Secretário de Justiça do Estado de São Paulo, Dr. Hédio Silva
Junior, explica o histórico da ação. Confira: 




Sensibilizando o STF

Na última quinta feira, 02 de agosto, os advogados Hédio Silva Junior, Antônio
Basílio Filho e Jáder Freire de Macedo, Demétrius Barreto Teixeira e Júlio
Romário da Silva, representantes das religiões afro-brasileiras, entregaram,
nos gabinetes de todos os ministros do Supremo Tribunal Federal, um parecer jurídico sustentando a legitimidade, legalidade e constitucionalidade do abate
religioso de animais.

“Essa luta é de todo aquele que luta por igualdade de direitos, e por um estado
laico de verdade, e por isso é importante que todos e todas somem esforços e
repudiem o que pode ser mais um página de retrocesso na história da
democracia brasileira” alertam os organizadores e reforçam o chamado. 
Leia também a nota da Comissão Afro-Religiosa Òkàn Dimó: 



Serviço:
Data: 08 de agosto de 2018
Horário: às 18h.
Concentração: Vão do MASP - Avenida Paulista
Para mais informações, clique aqui 

25 de junho de 2018

O que eu mais gosto em Èṣu



O que eu mais gosto em Èṣu é a sua capacidade de nos provocar e nos dizer a todo momento que as coisas podem ser diferentes. 
Èṣu é a gênese, a provocação, a comunicação, o recomeço, o fim, o tudo, o nada, os prefixos des- e re- certamente lhe pertencem. Èṣu é movimento. Ele certamente odeia a inércia. 
Todos nós somos Èṣu e nos esquecemos dele.
Vamos ficando preguiçosos dele, vamos abandonando o Èṣu que há em nós e é justamente nesta hora que ele nos manipula. Dizem que aquele que acende a fogueira com lenha molhada é um tolo porque ele sabe que terá de passar mais tempo abanando a lenha.

Èṣu não suporta perda de tempo, mas também não suporta a pressa. Ele é a controvérsia - Laroiye Èṣu - salve a controvérsia é a sua saudação. Em Èṣu tudo é tão paradoxal. 
Onde está o equilíbrio, onde está o melhor caminho. Está na ação. Está no Àṣẹ e na integridade existencial.

 Èṣu é Àṣẹ.
Negar o Àṣẹ é um grande Eewọ para a atuação e proteção de Èṣu em nossas vidas. 
Hoje pense no grande Ẹbọ para agradar Èṣu: o que posso fazer por mim? Èṣu não suporta o inacabado. 
Por isso pense bem antes de começar.
 Oṣala não desistiu de sua viagem para visitar Ṣàngó e por isso Èṣu permitiu que continuasse a sua viagem. Todas as histórias dos Òrìṣà nos ensinam o valor das continuidades, dos objetivos, da obstinação e da vida.

O que temos feito por nós?
O que queremos para nós? 
Por que as coisas tem sido mais difíceis hoje do que ontem? 
Por que tenho fugido do meu próprio potencial e de um destino de superação?
Por que vou ao mercado e não sei o que trocar? 
Por que quero ser menos do que mereço?
Por que estou parado esperando o paraíso cristão?
É preciso dizer a si mesmo que resistirá as provocações de Èṣu e que superará as próprias incertezas. São as incertezas que tornam os caminhos mais estreitos. É a percepção que faz o caminho. É a percepção que faz o caminho. 

Agradeça, encha-se de certezas e vá em frente! 

Laroiye Èṣu.

[Texto: Professor Doutor Babalorixá Sidnei Barreto Nogueira 
Foto: Por: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved]

16 de dezembro de 2017

Fotos de Axé para celebrar 1 MILHÃO de acessos no Olhar de um Cipó


Alguém pode ler e pensar: O que é um  milhão de acessos em um blog, quando há publicações na internet que, em um dia só, ultrapassam essa marca? 
Tudo bem, mas preciso também falar da felicidade que isso significa e a importância de pensar as possibilidades da alcance que nossas produções tem. E por isso celebro. 

Olhar de um Cipó é um blog que nasceu como forma de diálogo a partir das minhas vivências e anseios, no candomblé, e a fotografia é a forma que me cabe para escrever sobre essas experiências. 
O candomblé é a experiência de humanidade mais humana que eu já tive, e tenho. É o lugar que me permite ser, e que historicamente, é o lugar criado pelos meus ancestrais para pudessem ser livres, em resposta à opressão de uma escravização de quase 400 anos. 

Não só a violação e marginalização de nossas crenças, o racismo fez também que as temáticas relacionadas a religiosidade negra no Brasil, quando não invisibilizadas, fossem fetichadas, apresentadas de formas desumanas, porque é isso que um sistema racista faz com as práticas ancestrais africanas, no Brasil. Dessa forma, me é simbólico alcançar a marca de 1 milhão de acessos, através das tentativas de reescrever uma história em fotografias das diversas camadas de vida, fé e experiências sagradas proporcionadas no contato com divindades africanas. 

Eu poderia só celebrar e agradecer, mas preciso dizer e relembrar que, Olhar de um Cipó é uma ferramenta de enfrentamento ao racismo. É minha resposta. É uma contra-narrativa negra para enfrentar uma cultura que tentou roubas nossa humanidade, e que embora tenha causado grandes danos sociais ao nosso povo, não conseguiu nos eliminar, graças a resistência de todos aqueles que me antecederam, nessa luta. 

Assim, em memória da luta do  meu povo, publico imagens já conhecidas pelas pessoas que acompanham esse trabalho. Publico em agradecimento a cada um que se permite olhar, por aqui. Publico pra dizer que  milhão ainda é pouco, e que continuamos a dizer que o Candomblé é o maior legado que reis e rainhas africanos permitiram a nós, e com respeito, devemos preservar e defender. 

















  






































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