Por Fábio Mariano e Roger Cipó
Em 2015 foram protagonizados contra
as crenças de matriz africana uma série de atentados de todas as ordens: contra
o patrimônio material e contra o patrimônio físico, moral e espiritual de
vários adeptos. Invasões desmedidas se perpetuaram contra terreiros onde se
cultuam orixás, culminando, inclusive, na morte de uma Ialorixá; agressões
físicas, dentre elas, a de uma criança que, em razão das vestimentas, foi
apedrejada, quando saía do terreiro; seguindo-se uma longa e imensa lista de
denúncias de injúrias, cerceamento de direitos no âmbito das práticas
religiosas, que englobam a realização de rituais sagrados dentro dos terreiros
e de natureza fúnebre.
Sob o manto do estado democrático e
de direito, a intolerância demonstrada das mais diversas formas não poupou
ninguém. Aquele que pratica a injúria não tem um objetivo maior, senão o de
dizer onde aquele que foi injuriado deve estar: no campo da invisibilidade. Não
a toa, o psiquiatra e filósofo Franzt Fanon escreveu em Peles Negras, Máscaras
Brancas que “(...)Enquanto o negro estiver em casa não precisará, salvo por
ocasião de pequenas lutas intestinas, confirmar seu ser diante do outro.”.
Assim como ocorreu com as mulheres que tiveram determinadas a sua presença no
âmbito da vida privada, restando aos homens as disputas no campo público, com
negros e não cristãos não ocorreu diferente as diversas formas de colonização e
exclusão. Combater a intolerância religiosa significa rejeitar o racismo como
sistema de opressão e dar corpo e voz a uma parcela da população que vem sendo
sistematicamente agredida em sua dignidade pelo cerceamento de direito de
liberdade de culto.
A questão da liberdade de religião e
de culto amplamente requerida pela população negra e pelos religiosos de matriz
africana deve ser vista sob a ótima da afirmação e reiteração da identidade
negra e de toda a sua ancestralidade. Negar esse direito, compactuar com esta
lógica é o mesmo que permitir que os tambores continuem abafados e os adeptos
das religiões de matriz africana permaneçam naquilo que o “outro” considera a
sua senzala – não há democracia racial, como não há respeito à diversidade
religiosa.
Em 2007, o dia 21 de janeiro foi
instituído como a data de Combate à Intolerância Religiosa, em reflexão e
memória da Ialorixá Gildásia dos Santos - vítima de um dos casos mais drásticos
de intolerância que a história brasileira conheceu. O crime começou em outubro
de 1999, quando O jornal Folha Universal estampou em sua capa uma a Mãe Gilda –
trajada com roupas de sacerdotisa para ilustrar uma matéria cujo título era:
“Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. Sua casa foi
invadida, seu marido foi agredido verbal e fisicamente, e seu Terreiro,
depredado por evangélicos. A Ialorixá não suportou os ataques e, após enfartar,
faleceu em 21 de janeiro de 2000.
15 anos após a trágica morte de mãe Gilda, a
história se repete, e em Camaçari/BA, Mãe Dede de Iansã, também enfarta após
uma noite se insultos protagonizada por um grupo evangélico, na porta de seu
terreiro.
Em resposta à tanta violência que,
assustadoramente, aumenta a cada dia e tem se mostrado uma das faces mais
cruéis do Racismo, comunidades de São Paulo se reunirão para um Ato de Repúdio,
Afirmação e Combate aos Crimes de Intolerância Religiosa, no próximo dia 21 de Janeiro, às 19H. Com concentração no
Vão do MASP, religiosxs e simpatizantes tomarão o "Coração financeiro da
Cidade" em grito pela Liberdade de Expressão da Fé, Direito à Crença e por
uma sociedade de Respeito ao Próximo, à Natureza e à Diversidade. Tomaremos as
Ruas pelo promoção da Cultura de Paz em nossas relações. Vista-se de Branco e
Junte-se a Nós! Essa Luta é de Tod@ Aquel@ que acredita que a Paz é o Caminho
para uma Vida Melhor!
Acesse o link oficial do evento, no facebook, confirme presença e compartilhe: https://www.facebook.com/events/947733955311269/
Fábio Mariano. Professor. Bacharel e
Mestre em Direito. Doutorando em Ciências Sociais pela PUC/SP, estuda a Dignidade
e o Direito à Morte na Sociedade Brasileira.
Roger Cipó. Fotógrafo-pesquisador. Educador Social. Militante contra os crimes de racismo e
intolerância religiosa.
Serviço: Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa
Data: 21 de Janeiro, às 19H
Local: Vão Livre do MASP - Avenida Paulista
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