13 de outubro de 2015

Candomblé Ostentação - Dos Excessos que Gosto



Esse pensamento nada tem a ver com a cultura de ostentar excessos em pedrarias, ornamentos, balangadans, quilos de panos, paramentas absurdamente descaracterizadas - e esteticamente cheias de não sentidos, "ajeuns" glamorosos por encomendas, cerimônias rituais em locações luxuosas, seguidas de alvoradas orquestradas, cafés da manhã requintados, entre outras novidades que nos assustam a cada dia que passam a brilhar os olhos dos nossos.

Particularmente, penso que o erro já começa na associação da palavra ostentação  ao candomblé, quando essa define a cultura dos excessos de que tanto estamos cansados de  ver, ouvir e falar. No entanto, gosto do termo ostentação quando representa os luxos que poucos olhos podem ver, mas os corações sentem.  A ostentação (do latin "ostentare" que significa "mostrar") é o ato ou efeito de exibir com vaidade e pompa, bens, direitos ou outra propriedade, normalmente fazendo referência à necessidade de mostrar luxo ou riqueza.[1] O termo também pode contrair conotação positiva como por exemplo, "apesar de humilde, o sacerdote ostentava a fama de ser muito responsável no cuidado com seus filhos de santo, sempre tão bem educados".

Sim, eu gosto do candomblé ostentação, quando de forma natural e sem nenhum alarde, se ostenta amor pelo Orixá em sua essência. Gosto mesmo quando o excesso é apenas de respeito pela comunidade e por qualquer pessoa que chegar. Gosto quando o excesso é de obediência ao o que pede o Orixá e quando, excessivamente, sente-se Orixá nos quatro cantos do terreiro. Sou apaixonado por lugar com excesso de filhos prontos para a função. Sou apaixonado por candomblé que Orixá tem espaço para excesso de abraços e demonstrações de carinho por aqueles que o louvam de coração aberto, e não simplesmente saúda aquele sacerdote famoso, ou no contrário, faz cara feia e "peita" os possíveis desafetos de seus "Omo".


Pode ser desconexo pensar ostentação de sentimentos, de seriedade,  de carinho, atenção, e verdades. A ostentação trata de práticas de soberba e vaidade, logo, naturalmente quando se transborda bons sentimentos, não há tempo, tampouco necessidade de se vangloriar por amar e respeitar tanto o outro. Quem assim faz, só faz por entender a importância da afetividade, e quem cultua a ostentação do candomblé, faz por uma necessidade de atenção. Acho mesmo que a gente dando espaço para o culto de excessos errados. Cultuamos o ego e nunca o amor. Talvez, tudo seria mais fácil se nossos excessos fossem de afeto e não medidos nas quantidades, nos valores gastos, e nos luxos que preocupam tantos dos nossos, certos de que serão melhor aceitos se os olhos do visitante brilhar ao entrar na sua sala e encontrar seu orixá - mesmo que descaracterizado - impecavelmente brilhoso. 
Nossos valores são pautados nos preços e gradativamente, vamos nos perdendo numa cultura descartável sem verdadeiro valor e quase nada de Axé. 

Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved



2 comentários:

  1. Sábias palavras.
    Encantada com sua visão e esperançosa que exista mais seres humanizados dentro do candomblé.
    Kolofé!

    ResponderExcluir