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10 de abril de 2017

Simples Assim - Leci Brandão, pelo Olhar de um Cipó


Fé, Devoção, Ancestralidade e Samba na Alma. 

Simples Assim é o título do mais novo cd da cantora e compositora Leci Brandão, uma das mais importantes artistas do país. 

Confira aqui algumas imagens do ensaio que teve todo material fotográfico produzido pela Olhar de um Cipó











Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

14 de março de 2017

Cores, Instantes e Movimento: Olhares do Transe Sagrado


"As cores que revivem a presença sagrada. Os instantes quando a África Ancestral se faz. Movimentos que embalam a vida nos territórios de fé negra, e suas reticências. 
É nessa perspectiva que o fotógrafo Roger Cipó compartilha parte do acervo da Olhar de um Cipó, que há anos se dedica na documentação da imagem de terreiro, propondo através de suas imagens uma possibilidade de construir novas narrativas a cerca do registro do universo ritual e cotidiano na religiosidade do candomblé, tendo a fotografia como ferramenta de descontrução de olhares intolerantes".























Por: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

1 de dezembro de 2016

Especial Retratos: Grandes Nomes do Samba de São Paulo

Foi entre um café no lar de Oswaldinho da Cuíca, a tradicional feijoada da Dona Inah no Brooklin, uma reunião comunitária com a sambista e deputada Leci Brandão no quilombo de Cançandoca, uma manhã na Casa Verde com Mestre Dadinho, almoço no extremo norte com a rainha Duda Ribeiro, bolo e suco na zona leste com a Dama do Berço do Samba de São Matheus, Tia Cida, além da breve visita ao templo do samba da Unidos do Peruche com o anfitrião e sábio Seu Carlão, e uma corrida tarde para fotografar o mestre Moisés da Rocha, que esta série fotográfica se fez. 

Entre 2015 e 2016 tive a oportunidade de estar, aprender  e fotografar forças que fazem e mantém viva a história do samba de São Paulo, e em celebração ao Dia Nacional do Samba, 02 de dezembro, compartilho algumas dessas imagens. Sorrisos acolhedores, histórias de marejar os olhos e uma sabedoria que somente os grandes mestres possuem. Lições de vidas traduzidas em retratos das verdadeiras divindades da nossa cultura centenária. 



Leci Brandão: Leci Brandão da Silva, nasceu e foi criada nas proximades da Portela, Vila Isabel e Mangueira, redutos do samba carioca. É cantora, compositora e uma das mais importantes intérpretes de samba da música popular brasileira. Sua carreira teve início no começo dos anos 70, quando tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da Mangueira. Leci é uma artista versátil, como prova atuou na novela Xica da Silva na extinta TV Manchete, com a personagem SeverinaUma das mais importantes mulheres negras da história do Brasil e um dos grandes nomes do Samba, deputada estadual em seu segundo mandato, começou sua carreira artística em 1970 e foi a primeira mulher a participar da ala de compositores da Mangueira.



Mestre Dadinho do Camisa: O paulista Eduardo Joaquim nasceu 08 de agosto de 1943. Conhecido como Seu Dadinho, fez carreira nos Correios, mas sempre dividiu o seu tempo e dedicação com samba. Seu Dadinho é considerado um dos fundadores da escola de samba Camisa Verde e Branco e conviveu com grandes baluartes como Seu Inocêncio no Camisa Verde, Pé Rachado da Vai-Vai, Seu Carlão do Peruche, Madrinha Eunice no Lavapés (primeira escola de samba de São Paulo, ainda em atividade) e Alberto Alves da Silva da Nenê de Vila Matilde. Todas essas personalidades plantaram a semente do samba no estado de São Paulo. Ritmista e compositor de mão cheia, já coordenou a bateria da escola e escreveu canções como Peso da Tradição, Festa No Morro, Malandro Vacilão, Canto Pra Viver, Revelação, Eta Samba Bom.



Dona Inah: Nascida em Araras, no interior paulista, Ignez Francisco da Silva, a Dona Inah, é filha de músico. Aos nove anos já cantava nos bailes das fazendas da região e nas festas da cidade. Com menos de 20 anos de idade, mudou-se para Santo André, onde venceu o concurso “Peneira Rodini”, que lhe abriu as portas para os clubes, bailes, orquestras e rádios, em especial a Rádio Record. Em 2008, lançou o disco “Olha quem chega”, inteiramente dedicado à obra de Eduardo Gudin. Em 2010, Dona Inah esteve em Cuba, onde gravou 14 canções com músicos cubanos, cantadas em espanhol. Em 2011 participou do projeto “Damas do Samba”, em homenagem à Clara Nunes, Clementina de Jesus, Jovelina Pérola Negra e Dona Ivone Lara. Em 2013, lançou seu terceiro disco, “Fonte de Emoção”.




Oswaldinho da Cuíca: Nascido Osvaldo Barros, em 1940, Osvaldinho da Cuíca foi o primeiro Cidadão Samba Paulistano, em 1974. Integrou o grupo Demônios da Garoa em três momentos. Fundador da ala dos compositores da Vai-Vai, desde então teve seis sambas seus desfilados pela tradicional escola de samba do Bexiga. Três deles campeões, incluindo "Na Arca de Noel Quem Entrou Não Saiu Mais", de 1978, que deu o primeiro título à escola. A alcunha Osvaldinho da Cuíca lhe foi dada na época em que participou do grupo do poeta Solano Trindade.



Tia Cida: Maria Aparecida da Silva Trajano nasceu no dia 26 de novembro de 1940 em São Paulo. É filha de Maria Ercília da Silva Rosa e Otávio Henrique de Oliveira, conhecido como Blecaute, compositor de “General da Banda” (1949) entre muitos outros clássicos do carnaval de rua. Tia Cida ou Tia Cida dos Terreiros, é a mãe do lugar que ficou conhecido como o Berço do Samba de São Mateus, na zona leste de São Paulo. Sua casa se tornou um tradicional reduto do samba por acolher músicos, sambistas e apaixonados pelo gênero que faziam e continuam a fazer grandes rodas de samba, tendo tia Cida como matriarca e referência. Tia Cida gravou seu primeiro disco aos 73 anos de idade com incentivo e produção do Quinteto em Branco e Preto, grupo que viu nascer nas rodas de samba de seu quintal.




Moisés da Rocha: Seu primeiro contato com o rádio foi em busca do sonho de ser cantor. O timbre de sua voz, no entanto, chamou a atenção para além da música que interpretava. Foi assim que Moisés da Rocha conseguiu o seu primeiro emprego como locutor. Como radialista, entre suas conquistas estão o pioneirismo na rádio FM com um programa totalmente dedicado ao samba. Chamado “O Samba Pede Passagem”, o programa foi ao ar pela primeira vez em 1978, na rádio Universidade de São Paulo FM. O programa resgatou a força do gênero, abrindo caminho para muitos artistas. O “Samba Pede Passagem” representa um símbolo na luta pela valorização das raízes culturais afro-brasileiras, que atua por meio da música.




Dona Duda Ribeiro: Dulcinéa Ribeiro é professora de Educação Musical e Expressão Corporal, cantora, relações públicas, diretora de ala e apresentadora de eventos. Nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criada em São Paulo, no bairro da Lapa, zona oeste. Militou por 9 anos da Escola de Samba Vai Vai a convite do padrinho, o sambista Geraldo Filme, e depois no Camisa Verde e Branco a convite do Sr. Carlos Alberto Tobias. Foi dançarina e, depois, backing vocal do programa Show do Sargentelli na década de 70 e a única mulher a integrar o tradicional JB Samba. Foi eleita Cidadã Samba de São Paulo em 2005 por unanimidade, e agraciada com o título de Embaixatriz do Samba de São Paulo pela Embaixada do Samba Paulistano.




Seu Carlão do Peruche: Carlos Alberto Caetano nasceu no dia 11 de setembro de 1930 na região da Santa Cecília e Barra Funda, zona Oeste de São Paulo. Aproximou-se do samba quando conheceu a Lavapés, a mais antiga escola de samba paulistana ainda em funcionamento fundada por Madrinha Eunice. Foi lá que Seu Carlão tomou verdadeiro gosto pelo samba, liderou sambistas ainda adolescente e de onde saiu, em 1955, para formar sua própria agremiação, a Escola de Samba Unidos do Peruche, fundada em 1956 no bairro da Casa Verde. Além de ser um personagem importante da história do samba paulista, condecorado Embaixador do Samba pela União das Escolas de Samba de São Paulo, Seu Carlão é um exímio contador de histórias. Como um griô ele carrega consigo a sabedoria de quem muito viveu e aprendeu com os mais velhos. Seu Carlão não só fundou a Peruche como militou e milita pela tradição do samba paulista.


Fonte, Iniciativa e Produção: Mandato Deputada Leci Brandão
Fotos: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved












21 de novembro de 2016

São Paulo recebe exposição fotográfica sobre a vida no candomblé



A dança sagrada, a beleza do rito, o encontro com a divindade em transe.
Cores, formas, texturas e afetos da família de santo são traduzidos na fotografia de Roger Cipó, e compartilhados em sua mais recente exposição, Olhar de um Cipó, que abre na próxima quarta-feira, 23 às 15H, no tradicional Palácio da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, no Pátio de Colégio, centro da cidade.

A exposição leva o nome da pesquisa de RogerCipó, o jovem fotógrafo e candomblecista que vem se destacando com sua sensível arte de registrar a vida ritual e social dos terreiros de candomblé. Seu trabalho propõe um diálogo visual atravpes das belezas do universo dos orixás, para desconstruir o imaginário intolerante sobre a imagem de terreiro, construído a partir das lentes do racismo religioso, ao longo do processo de demonização e marginalização da fé em divindades negras.   

Com visitação até 30 de novembro, a Exposição FotográficaOlhar de um Cipó integra a programação especial da Consciência Negra, promovida pela Coordenação Geral de Apoio aos Programas de Defesa da Cidadania, em parceria com o Fórum Inter-religioso por uma Cultura de Paz e Liberdade de Crença de São Paulo.


Saiba mais sobre a pesquisa Olhar de um Cipó pela promoção e valorização da imagem de terreiro: https://www.facebook.com/olhardeumcipo/?fref=ts


Serviço: 
Exposição Fotográfica Olhar de um Cipó
Abertura: 23 de Novembro, às 15 - Visitação até 30 de novembro.
Local: Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania
Espaço da Cidadania André Franco Montoro
Largo Pátio do Colégio, 184 - Sé, São Paulo
Entrada Gratuita


2 de novembro de 2016

Infância entre Divindades - as Crianças no Xirê do Candomblé


"Feliz, a criança vive entre os deuses
Abraça deusas 
E se torna príncipe e princesa", Roger Cipó.

O candomblé é uma religião fundada pelos povos africanos, no Brasil, numa tentativa de reestabelecer as relações famíliares que foram interrompidas com o desumano processo de escravização de mulheres, homens e crianças negras, no país. 

Não a toa, comunidades religiosas se reconhecem e se organizam a partir dessas referências. São mães, pais, filhas, filhos, tios, avós, avôs de santo, constituindo famílias de axé e propagando assim um dos sistemas religiosos mais complexos do mundo, interligando humanidade e natureza, amparados nos conceitos civilizatórios africanos onde a família extensa é a base. Uma noção de família acolhedora, que respeita diversidades e abraça diferentes, pela unidade e fortalcimento da identidade individual e coletiva.

Nesse contexto, a criança de terreiro é educada com olhar especial. Aprende desde cedo o verdadeiro sentido de respeito e crescem sob à luz e cuidados de deuses e deusas africanas. "O Candomblé valoriza a família, a vida em família e é uma família; sendo assim, a criança é vista como um vir a ser e como a continuidade da família e da vida em família – ela é e deve ser elemento nuclear e protagonista neste universo africano", explica o Professor Dr. e Babalorixá Sidnei Barreto Nogueira, e completa: "neste Candomblé cíclico e contínuo, a criança iniciada tem papel de protagonista e tem seu espaço, ela é honrada, louvada e protegida, como criança, que será o futuro da comunidade, porque sabem que, efetivamente, ela o será. Em uma sociedade que nega o espaço a esta criança, encontrar um espaço privilegiado no Candomblé pode, em certa medida, compensar esta ausência e, por isso, ela gosta de estar nele"

A série fotográfica "Uma Infância entre Divindades - as Crianças no xirê do Candomblé" compartilha expressões de crianças durantes celebrações de terreiros de candomblé. Para elas, sagrados territórios, onde estão protegidas da intolerância religiosa, um dos tentáculos mais perversos do racismo, mal presente nos diferentes espaços sociais e que faz do ambiente escolar, um dos mais nocivos para quem cresce com fé nos orixás, como constatou a pesquisadora e professora Stela Guedes Caputo. Confira a série: 





























5 de setembro de 2016

Religião, religiosidade e relações étnico-raciais no Brasil segundo os Censos de 2000 e 2010


Religião, religiosidade e relações étnico-raciais no Brasil segundo os Censos de 2000 e 2010: contribuições ao debate sobre a violência, cultura de paz, identidade e pertencimento.

Já vivenciamos a oportunidade de olhar para os dados do IBGE sobre religião no Brasil, em outro momento, para analisarmos as informações referentes à quantidade de fieis das diferentes religiões, tradições e filosofias praticadas no Brasil. Pierucci inclusive, nos fez em vida, várias provocações, das quais muitas, só o tempo poderia responder. Em meio a tais números, falou-se de certo cansaço das religiões consideradas majoritárias e de tal mercado da fé, que exclui do acesso a Deus, em alguns casos, os mais vulneráveis.
Aqui, hoje, interessa-nos o enfrentamento à intolerância religiosa e ao racismo, considerando o perfil de quem pertence às comunidades religiosas. Vale lembrar que a presença negra em determinadas tradições deveria ser símbolo significativo e pulsante, ao invés de rechaçada, seja pela via da pobreza, seja pela questão única e exclusivamente da cor da pele, mas não é assim que o mercado funciona. Ao mesmo tempo, as tradições étnicas, assumiram outra postura e tornaram-se universais, dizem alguns dos estudiosos da área. É como, segundo eles, se todos fossem bem vindos e se tornassem parte, pertencessem, assim, pura e simplesmente.
Ocorre que tais números são, em tese, as bases para o dialogo sobre o que acontece no Brasil atual e, aqui deve nos ajudar a refletir sobre as coisas de dentro de casa, para aí sim, irmos à luta, alimentados com informações traduzidas, o que por si só, altera o processo. Desta forma, com essas breves reflexões sobre o cenário atual, damos um passo pra trás e convidamos todos, a avaliar tal cena a partir dos nossos referenciais, sobretudo, no que refere-se á prática e a realidade de cada uma das comunidades tradicionais de Terreiros, pois não tenho, é óbvio, a pretensão de trazer aqui lições à vigários. Não trata-se, portanto, de uma pesquisa cientifica, mas sim, de uma reflexão a partir do que já foi constatado.

Diante de um país cujo catolicismo sempre foi considerado uma de suas características principais, as mudanças estruturantes no terreno político, também seguem a onda por vezes fundamentalista e em outras vezes, conservadora, ao ponto de brecar toda e qualquer discussão sobre os assuntos relacionados ao tema. A estratégia tem sido historicamente, minar a pauta ou diminuí-la, em nome da universalidade do sistema, porque afinal, tudo que foi criado, acolhe a todo mundo, independente das diferenças que existem entre nós, dizem os especialistas. E, como em um Brasil nem tão distante assim, apenas os cristãos eram considerados gente –afinal, preto não tem alma– a tradição brasileira hierarquizou as religiões chamadas majoritárias de forma a valorizar a cultura e os ditames da Santa Igreja Católica, o luteranismo e só depois a Umbanda, que aqui vou chamar de: modelo aceito.
No Censo de 2000, foi questionado qual a religião dos brasileiros e, tais religiões foram classificadas nos seguintes grupos: Católica Apostólica Romana, Evangélicas (de missão, de origem pentecostal, outras religiões evangélicas), Espírita, Espiritualista, Umbanda, Candomblé, Judaica, Budismo, as Religiões Orientais, Islâmica, Hinduísta, Tradições Esotéricas, Tradições Indígenas, Outras Religiosidades, Sem Religião e Não-determinadas. Importante lembrar alguns aspectos importantes:
  1. a importância que possui a múltipla pertença, afinal, este é um país em que as pessoas vão à missa no domingo de manhã, mas buscam a benção dos Orixás em diferentes momentos da vida, no que destaca-se a busca por respostas à questões pessoais ou do âmbito da família;
  2. a presença massiva do catolicismo nas áreas rurais e na área urbana, no que deve-se considerar a migração (aparentemente mais acirrada na última década, já que há uma presença visível nas ruas e um debate intenso sobre direitos básicos) e, a tendência de declínio da Igreja Católica, amplamente comentada, além da troca de uma religião pela outra, a gosto do freguês;
  3. o perfil de quem conduz e, como se dão as ações de enfrentamento à intolerância religiosa e o combate ao racismo, no país, considerando a importância das ações afirmativas já que, acrescentam valor à consciência negra brasileira;
  4. a encruzilhada da intolerância religiosa com o preconceito racial, que ainda mantêm-se associadas na cena brasileira, implicando na organização do debate sobre o perfil do povo de santo.

Assim, é importante considerar que:
As grandes tendências reveladas pelo Censo Demográfico 2000, dentre outros aspectos, estão na grande variedade de religiões concentradas na área urbana do País, que é crescente; que as mulheres são maioria na declaração das religiões e o excedente de homens foi encontrado de forma acentuada no grupo dos sem religião. O Brasil continua sendo mais católico apostólico romano, entretanto, com um ritmo de crescimento pequeno; e que a segunda maior proporção de pessoas religiosas correspondem aos evangélicos, com marcante crescimento dos pentecostais (IBGE, p. 49:2011)
De qualquer forma, estamos falando de um fenômeno social importante: o pertencimento das pessoas a uma determinada religião, bem como suas cores e raças, fator este, que deve nos ajudar na reflexão sobre o advocacy tão necessário para a atualidade.

Os números das diferentes religiões praticadas no Brasil
No que refere-se ao Censo entre 1940 e 2000, os católicos, em 1940 eram 95,2% da população, em 1980 eram 98,2% e, no ano 2.000 eram 73,8%. Os evangélicos em 1940 eram 2,6% da população, em 1980 eram 6,6% e, em 2.000 eram 15,4%. Os declarados sem religião em 1940 eram 1,9%, em 1980 eram 1,6% e em 2.000 eram 7,3%.
Em números absolutos, as religiões do Brasil no ano 2000, contavam com: 124.976.912 católicos romanos (73,77% da população brasileira); 26.166.930 evangélicos (15,44% da população); 2.337.432 espíritas (1,38% da população); 571.329 entre os afro-brasileiros (0,34%), com uma presença de 432.001 de Umbanda (0,26) e 139.328 de candomblé (0,08), que notem, não estão aqui somados como religiões afro-brasileiras e sim, divididos entre uma e outra. Sabemos também que há mais que dez diferentes religiões agrupadas sobre a marca do candomblé, mas não conseguiremos ver esta diversidade no trabalho do IBGE.
Os resultados do Censo Demográfico 2010 mostram o crescimento da diversidade dos grupos religiosos no Brasil, revelando uma maior pluralidade nas áreas mais urbanizadas e populosas do País. A proporção de católicos seguiu a tendência de redução observada nas duas décadas anteriores, embora tenha permanecido majoritária. Em paralelo, consolidou-se o crescimento da parcela da população que se declarou evangélica. Os dados censitários indicam também o aumento do total de pessoas que professam a religião espírita, dos que se declararam sem religião, ainda que em ritmo inferior ao da década anterior e do conjunto pertencente a outras religiosidades (IBGE; p. 90:2010).
No que refere-se à educação, para o IBGE o nível educacional da população religiosa revela que os espíritas apresentaram a maior média de anos de estudo: 9,6 anos de estudo. A média para pessoas que se declararam da umbanda e do candomblé foi de 7,2 anos de estudo, dos evangélicos de missão 6,9%, dos católicos apostólicos romanos 5,8 anos de estudo, os declarados sem religião possuem 5,6 anos de estudo, e os evangélicos pentecostais 5,3 anos de estudo.
Em primeira instância, os adeptos de religiões afro-brasileiras estão estudando mais que os evangélicos e, os sem religião, mais do que os evangélicos pentecostais.
Além disso, a maior proporção de pessoas que se autodeclaram da cor branca no campo da religiosidade brasileira, são: judaica (96,4%), evangélica de missão luterana (95,8%) e islamismo (88%). As religiões com maior proporção de pessoas que se declararam pretas são: candomblé (22,8%), umbanda (16,7), casa da benção (10%) e sem religião (9,3%). As religiões com maior proporção de pardos são as seguintes: Católica Apostólica Brasileira (48,5%), Assembléia de Deus (47,5%) e Deus É Amor (45,9%). As maiores proporções de amarelos estão no Budismo (37,8%) e outras novas religiões orientais (36,6%).
Esses números como todos sabem, não são de Terreiros ou Igrejas constituídas, mas sim, de pessoas que se declararam religiosas no país, mas ao estudar tais números, é possível analisá-los por região do país, mas ainda não por município, como era o meu desejo inicial. Ser 0,34% da população, nas religiões afro-brasileiras em 2.000 nos parece pouco, já que nossa percepção é de que a comunidade ampliada é muito mais intensa e fervorosa. Quando olhamos para as festividades públicas, como a Festa de Iemanjá no Rio Vermelho, a Festa de Ogún no Ginásio do Ibirapuera e, mais recentemente, as manifestações políticas, a exemplo da Caminhada contra a Intolerância Religiosa no Rio de Janeiro, tem-se a ideia de uma grande quantidade de fiéis, que podem ser melhor visualizados nas inúmeras cerimônias de todos os sábados a noite, nas periferias das grandes cidades, onde não por acaso, estão as favelas e parte considerável da população negra brasileira, convivendo com o racismo, o preconceito, a discriminação e a intolerância religiosa.
Mãe Gilda, que morreu pós-enfarte seguido da violência gerada pela intolerância, bem como os inúmeros Terreiros derrubados pelo Estado como no caso da Bahia, ou invadidos por evangélicos neopentecostal, representam e muito bem, os motivos que alimentam o tema. Somam-se a isto, os inúmeros casos de perseguição dos Terreiros pelo Estado nos anos 1.800, as práticas que envolvem a relação entre Polícia Militar e as comunidades tradicionais de Terreiro e, o fundamentalismo, que norteia o debate sobre a homofobia, o direito das mulheres de abortar, além do caso clássico de intolerância vivenciado por crianças e adolescentes seguidores do candomblé, nas salas de aula de todo o território nacional e a violência imposta ao povo de santo junto ao SUS – Sistema Único de Saúde, em função de sua crença, também em todo o país (MONTEIRO, C.R. Portal Áfricas, Julho, 2015).
Quando avaliados os números do Censo de 2010, tem-se que, o povo de santo declarou-se 0,3% de seguidores da Umbanda e do Candomblé (juntos), sem diferença da pesquisa anterior, mas com uma divisão diferente, considerando a maioria destes, concentrada na região sul do país, com 0,5% desse total que agora, são 0,6%, quando no Nordeste era em 2.000 um total de 0,1 e agora, são 0,2% da população de residentes.


Relações étnico-raciais, racismo e identidade: questões do pertencimento e das relações sociais.
 Quando questionadas cor e raça do total da população, soube-se que a proporção de pardos aumentou de 38,45% para 43,13% e os pretos, foram de 6,21% para 7,61%, mas os brancos decaíram de 53,74% para 47,73%. Assim, a população negra (pretos e pardos juntos) demonstrou-se a maior parte da população. E, dizem os especialistas essa mudança diz respeito diretamente aos jovens de 15 a 24 anos, que se declaram pretos ou pardos, mais que os adultos, visto que “há mais declarações de jovens pardos (16 milhões) do que pretos (2,5 milhões), tendência semelhante à do grupo de adultos…”. Essa mudança pouco se percebe no cotidiano, mas está sempre muito relacionada ao como se sentem, como se percebem e à forma como elas se relacionam com as regras que compõem as suas comunidades (no que incluem-se as instituições religiosas) e, a forma como são vistas pela sociedade ampliada.
São inúmeras as cenas políticas e pedagógicas em que as religiões são parte importante, quando avaliamos, por exemplo, a conjuntura do país, pois, formam opiniões. Essa informação é importante para a construção da resposta que tais segmentos oferecem a problemas sociais relevantes, como é o caso das relações étnico-raciais, onde há um silêncio, que considero enorme.
Natural, avalio que as áreas mais urbanizadas reúnam uma quantidade maior de fieis, visto que nas grandes cidades está a busca pelo desenvolvimento, em meio ao capitalismo e as possibilidades de avanço profissional, entre outros, razão pela qual concentra-se a grande maioria (sempre em disputa). A mudança de uma religião pela outra compõem, a meu ver, essa busca cujo buraco é muito mais embaixo. E, quanto ao que diz respeito ao numero de espíritas, é importante lembrar que para além dos reais seguidores de Kardec, parte dos seguidores de religiões afro-brasileiras, sobretudo entre os mais velhos, declara-se cotidianamente ainda hoje, como espíritas, usando o argumento de que lidam com espíritos, ou como católicos, em função da perseguição ainda constante. Ainda assim e, salvas as proporções, a forma como as pessoas apresentam-se diante da pesquisa, nos aponta varias facetas, que não são exclusividade das religiões afro-brasileiras, como vemos abaixo:

Considerando o período de 2000 a 2010, observou-se, ainda, o aumento expressivo do segmento da população que apenas respondeu ser evangélica, não se declarando, portanto, como de missão ou de origem pentecostal. Confirmou-se a tendência de crescimento do segmento de evangélicos pentecostais, o que ocorreu em todas as Grandes Regiões do País. A parcela da população que se declarou evangélica de missão teve ligeira redução proporcional, caracterizando estabilidade em sua participação relativa no total da população. Neste aspecto, houve diferenciações regionais, sendo esse fenômeno evidenciado nas Regiões Sul e Sudeste, onde historicamente os evangélicos de missão eram mais numerosos. O contingente populacional de católicos teve redução em todas as Grandes Regiões do Brasil, mantendo-se mais elevada nas Regiões Nordeste e Sul. Na Região Norte foi onde ocorreu a maior redução relativa dos adeptos do catolicismo. E entre os espíritas, o aumento mais expressivo foi observado nas Regiões Sudeste e Sul… (IBGE; p. 91:2011).

E como já vimos: O Mapa da Violência nos informa em 2014, que a atuação do Disque 100 registrou 149 denúncias de discriminação religiosa no País.  Mais de um quarto (26,17%) ocorreu no estado do Rio de Janeiro e 19,46%, em São Paulo. Em 2013 foram registradas 228 denúncias. O Portal Brasil nos informa que “o Disque Direitos Humanos (Disque 100) recebeu 252 denúncias relacionadas à discriminação religiosa ao longo de todo o ano passado. Se comparado a 2014, quando as demandas chegaram a 149, o número representa aumento de 69,3%. Dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH-PR) revelaram ter havido 756 denúncias entre 2011 e 2015.” Atenção, um dado fala muita coisa, mas pode ser que o outro não queira escutar.

A sistematização dos dados, diz a sociologia, deve nos levar a mais qualificada reflexão e, por conseguinte à necessária mudança de contexto. Essa reflexão, por conseguinte, deve apontar para uma intervenção dura, forte, sustentável, que nos tire do campo do discurso, para o universo da ação, às vezes programática, na comunidade que lideramos, na relação com a comunidade do outro bairro, da outra cidade, sem perder o foco e articulando-se com as organizações do Estado laico, democrático e de direito, em busca de respostas concretas que tenham impacto direto na vida social e coletiva… Embora entre 2014 e 2015 haja um aumento de cerca de 276% de denuncias, que reflete as ações sociais deflagradas para combater a intolerância, é preciso mais do que a acolhida oferecida pela União. Nem sempre esse país capitaneou dados dessa natureza. Mas isso é pouco.
Em meio à caminhada pude constatar que, no que refere-se à intolerância religiosa:
[…] a promoção de uma cultura de paz depende de um combate real, que prefiro chamar de enfrentamento à intolerância. Não há nem aqui, entre nós, nem na periferia mais pobre desta cidade sequer uma possibilidade de paz, diante da presença de inúmeras necessidades básicas do cidadão, seja ele da tribo que ele for. Cultura de paz está intrinsecamente ligada a desenvolvimento humano, social, coletivo e individual. Este desenvolvimento humano que me refiro, deve ser sustentável, para todas as pessoas em cada lugar desta cidade, em cada viela de nossos bairros, pois do contrário a cultura de paz continuará convivendo com sua maior vilã, a desigualdade e se assim for, continuaremos aqui é claro, enfrentando estes desafios, mas sem a tecnologia que beneficia uns e, exclui os outros, o que acho um prejuízo. Se o acesso aos bens, aos serviços e o total da riqueza não for um facilitador, a intolerância religiosa e as discriminações correlatas serão cada vez mais um elemento contribuinte no declínio da ordem e do progresso. Desta forma, a doença, o mal, o medo, a discriminação e tantos outros aspectos ardilosos da vida, ganharão espaço na reforma que a gente quer fazer no outro, o que implica em fazê-la primeiro, em cada um de nós. Cultura de paz e não violência, além do enfrentamento às desigualdades, à intolerância e à discriminação, perpassa pela lógica da reorganização da sociedade, da cidade, do bairro, da casa da gente. (MONTEIRO, C.R. Portal Áfricas, Julho de 2015).
Nada simples, visto que aqui estão relacionados fatores como pertencimento e identidade, o que considero importante também para a auto declaração. Diante disto, é importante questionar se as pessoas conseguem se enxergar nesse quadro e, o como elas se encaixam nessa cena, já que os casos de intolerância registrados pelas instituições competentes não dialogam com o que estamos vendo aqui.

Publicado originalmente em Portal Áfricas, por Celso Monteiro, [i] Sacerdote do Asé Igbin de Ouro. Contatos: montcelso@yahoo.com.br . Fotos que ilustram a matéria: Roger Cipó - Olhar de um Cipó
Referencias:
BRASIL. Censo 2.000. IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística do Brasil.
MONTEIRO. Celso R. Intolerância Religiosa à luz do Direito: o caso das tradições de matrizes africanas, a laicidade do Estado e o Brasil atual. Portal Áfricas, 2015.