17 de março de 2016

Quando uma menina de 14 anos resolve escrever o que é candomblé para combater a Intolerância



Cansada de ter que justificar suas convicções religiosas, a todo momento, a brasiliense de 14 anos, Izabelle Aymee resolveu escrever o que é candomblé para combater a Intolerância Religiosa, através da informação compartilhada. De formas simples e educada, a menina, filha de Bessen explica o seu olhar para a religião dos orixás.

Sobre Izabelle, eu sugiro: Guardem esse nome (Acompanhe também o perfil dela no Facebook). Ela é uma jovem força de Combate à Intolerância Religiosa no ambiente escolar. - Mas isso é uma outra publicação, que em breve, a gente conta. 
Segue o texto: 

Escrevi esse texto com um único objetivo: explicar o que é o candomblé para aqueles que não possuem conhecimento sobre a religião.
Gostaria que vocês tirassem alguns minutos para ler e tirar, pelo menos, parte das duvidas que vocês possuem sobre o candomblé. E por favor, se alguém te fizer alguma dessas perguntas, mostre esse texto. Tenho certeza que não restarão duvidas.
 
O candomblé ainda é uma religião bastante discriminada por grande parte das pessoas, isso devido ao que a mídia mostra e os tais "pais de encosto" que, para conseguir fama nas igrejas, inventaram historias sem pé nem cabeça. Então decidi escrever um pouco sobre isso e ajudar de alguma forma, aqueles da religião, principalmente os mais novos, a terem argumentos para defender sua fé. Abaixo contem perguntas,algumas que eu já escutei até mesmo de "novatos" no candomblé,por estarem cheios de dúvidas ainda e não terem tanto conhecimento.. E outras que escuto diariamente. 







- O que é o candomblé? 
É uma religião de origem africana,que cultua a ancestralidade e os Orixás. 

- No candomblé,existe um Deus principal? 
Sim,o chamamos de Olodumaré / Olorun, o criador - o senhor do céu, e ele nos colocou aos cuidados dos Orixás, que são nossos intermediadores. 

- Mas se existe um Deus,porque vocês tem os Orixás? 
Os Orixás são divindades da natureza,portanto,são mais próximos de nós,e assim eles se "comportam",ou melhor,são os nossos pais! Ou seja,nos educam e nos ensinam a conhecer nossas qualidades e defeitos. 

- E sobre matar animais? 
O sacrifício de animais, tem como objetivo dividir com Deus o resultado do nosso trabalho. É uma tradição trazida da África. Contudo, respeitamos a natureza e só é retirado aquilo que for consumido. Tudo é feito em um longo ritual, quando pedimos Agô (licença) à natureza, em que rezamos antes, durante e depois de seu sacrifício, por retirar aquela vida, que é muito importante, por ser um ser vivo.
E não benzinho,nós não sacrificamos gatos, cachorros... Nem nada disso. Os animais que são sacrificados, são os mesmos que compõe a mesa do almoço e jantar. Até porque, parte do ritual é se alimentar daquela carne que após ofertada aos Orixas, se torna ainda mais sagrada.

- Porque vocês vestem aquelas roupas engraçadas? 
Bom, pelo que eu sei, as saias longas são mantidas dos tempos coloniais. O pano que envolve o seio e o ventre das mulheres,chama-se pano da costa. E o pano que cobre a cabeça,é usado por acreditarmos que a força maior esteja no Ori (cabeça), ou seja, uma forma de proteção,de "guardar" a cabeça. 

- E porque tem que raspar a cabeça? 
É porque, quando fazemos o santo, quando nos iniciamos no candomblé. Significa renascimento, de abdicação da vaidade pela fé, o de buscamos nos "conectar" totalmente ao nosso Orixá. E vou te falar:  Quando é por amor, como é o meu caso, você nem liga para cabelo! Ah, e lembrando: NÃO SÃO TODAS as pessoas do candomblé que precisam raspar a cabeça,na religião, existem os Yaôs, as Ekedes e os Ogãs,cada um com a sua "função" e desses, somente o Yaô, e alguns Ogans e Ekedes raspam as cabeças. 



- O candomblé pertence ao diabo? 
É como eu sempre digo: nós do candomblé, sequer acreditamos no tal coisa ruim. Fiquem tranquilos que ele é exclusividade da mitologia cristã. Nós não temos essa força inimiga dentro de nosso culto.

- E Esú? 
Esú é uma divindade mensageira, ligada à sexualidade e a semelhança da natureza. Costumo dizer que ele é o reflexo das pessoas, e por isso, o motivo delas o temerem tanto, por ele apenas reflete o que nós somos realmente. Ele é luz e escuridão, como tudo o que existe, inclusive nós. O que aprendemos dentro do candomblé é a equilibrarmos essas forças. 

- Por que vocês "se cortam"?
Esses cortes, nós chamamos de "Cura", e ela tem como objetivo proteger nossos corpos de toda a influencia negativa. 


- Se o Orixá é um Deus, porque quando vocês os recebem, se abaixam para os humanos? 
Acredito que o Orixá é uma inteligência superior, e como pais, eles dão exemplo, ou seja, quando estão manifestados, demonstram gratidão, humildade e amor aos seus filhos. Quando ele se abaixa é um sinal de estar colocando seu filho ao cuidado daquele determinado sacerdote, que defende e se dedica a cuidar do seu filho. 



Texto: Izabelle Aymee 
Fotos: Acervo pessoa de Izabelle Aymee 

11 comentários:

  1. Que texto belíssimo!
    A Izabelle conseguiu explicar de forma simples e clara os questionamentos que nos são feitos dia após dia.
    Isso quando não somos insultados,''amarrados' e ''repreendidos'' pelas pessoas de mente pequena,que nem se dão ao trabalho de ter informação antes julgar.
    Meus parabéns por sua coragem,determinação e força de vontade Izabelle,que Olorun e Bessen te abençoem mais e mais!
    Axé!

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  2. Simples, puro, verdadeiro e lindo. Tem a doçura e aroma da devoção. Obrigado Izabelle, !
    A raiz da Nação é a devoção, o Amor ao sagrado que escrevestes nas entrelinhass!
    Obg de novo,
    Um ft abç1
    Que brilhe a vossa Luz!!!
    MM

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  3. Minha querida, filha da transmutação! gostaria de ajudá-la a, tão somente, informar aos curiosos e incrédulos, que as curas também têm como pressuposto, indicar as várias origens e as famílias a que cada uma das pessoas iniciadas está vinculado. É como uma marca de DNA externo, um nome a ser reconhecido, preservado e respeitado. Se cometermos erros ou acertos somos reconhecidos por esses caracteres corpóreos. No Brasil, esse procedimento passou a ser utilizados em lugares visíveis, mas socialmente melhor aceitos, como nos braços, pernas e tronco. Outros lugares do corpo também podem receber esses sinais, mais somente, representativamente, através de pinturas. Na atualidade não se usa marcar o rosto com esses traços litúrgicos e identificadores.
    Um cheiro gosto.
    Tatá de Inkise Lambanguaje de Mutalambô

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Parabéns Izabelle!!! Belo texto, mas acima de tudo, bela atitude! Ame sua fé, ela é sua verdade e isso por si só já basta. Não é necessário o conflito tão desejado pelos intolerantes.

    Ato admirável!

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  7. Respostas
    1. Há no texto uma meia verdade, no que toca à imolação feita a um tipo de ogum. Quem conhece sabe do que estou falando.

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    2. Sim Marcos....no entanto aqui no Brasil não é usado tal "sacrifício"....estaríamos arriscando um bom processo pelo Ibama....por outro lado vc fala em "tipo de Ogun" ...só uma observação....Orisá não tem tipo...mas valeu...

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  8. Uma boa iniciativa da Izabelle...parabens.

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  9. Menina que coisa mais linda.Parabens.

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