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29 de julho de 2016

Dourada: Inspirado em Ndandalunda, ensaio celebra a Beleza da Mulher Negra

Na última segunda-feira, 25 de julho, celebramos o Dia Internacional da Mulher Afro-Latina-Americana, Caribenha e Indígena. 

"Comemorar o  25 de julho é celebrar e reverenciar a elaboração de novas perspectivas feministas, em especial da introdução da diferença na teoria feminista tradicional. Afinal não podemos esquecer que o feminismo que ressurgiu na década de 1970, afirmava uma identidade feminina homogênea, logo não se conseguia identificar e visibilizar demandas específicas de mulheres que sofriam com a intersecção de diversas condições como, gênero, raça, classe, etnia, orientação sexual e religiosidade". Blogueiras Negras.


Em celebração e reflexão ao 25 de julho, a Olhar de um Cipó compatilha Dourada, uma homenagem à Nkise Ndandalunda, divindade bantu das águas doces, do ouro, da fertilidade feminina, do acolhimento e da doçura.
Dourada também é um olhar para a singularidade da beleza negra que acolhe, empodera e motiva para luta, com a mesma capacidade que movimenta as águas para bem cuidar de seus filhos e filhas.  

Kiuá Ndandalunda! 






























Ficha Técnica
Ensaio: Dourada para Ndandalunda 
Modelando: Raíssa Teixeira - N'tangu Maza
Figurino: Raíssa Teixeira 
Locação: Convento de Santo Antônio - Largo da Carioca, Centro do Rio - RJ.
Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved



15 de junho de 2016

Série: Orixás do Candomblé - Retratos da Força Ancestral da Fé Negra

Para além de todas as definições teóricas e técnicas de grandes teóricos e pesquisadores, vou me ater a uma das definições mais sinceras e lindas que encontrei nos últimos dias: "Orixá não é espirito daqueles que vem de fora e toma o corpo, não somos 'espiritas' [também não haveria problemas se fossémos]! Orixá é a força que vem de dentro. Nosso corpo é o templo do sagrado!"  [Janaína Teodoro]

Orixá, ou Nkise, ou Vodun, é força mis pura que cada um trás em seu ser. É o pouco de África Ancestral que renasce em quem se conecta. É a nossa capacidade de se perceber parte importante do mundo. É a folha em nós, é a água, o vento, o fogo, a poeira, o ar que dá vida, a placenta, o coração que pulsa, a vontade de vencer na vida, a certeza de que morte é viver também. 

Assim, compartilho uma parte da série "Orixás do Candomblé - Retratos da Força Ancestral da Fé Negra", imagens que me foram permitidas ao longo da pesquisa Olhar de um Cipó, numa tentativa de registrar a presença das forças de Orixá, Nkises e Voduns, quando convidados pelos toque dos atabaques e dos cantos sagrados, alinhados à fé de seus filhos e filhas se manifestam e revivem suas histórias, lutas e relações de amor com seus descendentes.



Omolu 

Oxum 

 Oyá 

 Ogum

Oxóssi 

Oxóssi 

 Iroko

 Nanã

 Oxum

 Oyá

Yewa 

 Ogum

Yemanjá 

Xangô


Todas as imagens são de autoria de Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

31 de março de 2016

Mãe Beata de Yemonjá afirma que Não vai defender quem sempre submeteu o povo à Escravização



Hoje nossa pátria chora lágrimas de vergonha e tristeza ao perceber que nós não havíamos entendido o que é respeito e dignidade a nossa bandeira brasileira que é sagrada para muitos de nós.

Percebo que hoje a perfídia dos poderosos começam a se travestir em golpe politico com seus pactos de complô contra a Democracia, nos envolvendo em um mar de lama, como o que ocorreu em Mariana. Já não é suficiente toda esta sujeira, nos vemos ser arrastados pela manipulação midiática do poder da falsa informação aos incautos.

Mas eu, uma mulher negra e consciente de meus direitos não me deixarei abater em meus 85 anos de vida negra, onde sigo minha fé afro-brasileira rogando aos meus ancestrais e orixás, para que estes algozes com suas chibatas na mão, não ficarão impunes, pois Xangô é minha lei e justiceiro e não irá me trair nem ao meu povo.
Não passarão!

O golpe não terá uma plateia automática aplaudindo tal desdita nefasta e cruel, sou uma mulher e Iyalorixá do Candomblé, e viví a Ditadura Militar e o Estado Novo, onde minha cultura e religiosidade afro negra foi calada e  violentada durante décadas da atualidade e séculos passados com a Escravidão.

Hoje a Censura e Ditadura à nós é contemporânea e portanto, dissimulada, pois usam novas linguagens racistas, fascistas para nos iludir e controlar.
Povos de Terreiro e Matrizes Africanas, não estou aqui para defender o lado dos que sempre nos submeteram e nos dominaram, colocando nosso povo em situação de escravização moderna.
Mulheres negras, brancas, indígenas, mas antes de tudo mulheres, somos a representação da vida, pois a geramos. Não sejamos omissas e coniventes com este Golpe vergonhoso que o poder senhorial quer de novo nos impor, como peças baratas de mercado.

“A carne mais barata do mercado é a carne negra”

Não irei compactuar com o genocídio da população negra, o feminicidio de nós mulheres, o racismo, a intolerância religiosa e a homofobia e lesbofobia.

Este Golpe vergonhoso representa o retrocesso de conquistas de Direitos Humanos e está em nossa Constituição Federal, portanto, o pleno exercício de nossa Democracia.
Não me deixarei ser usada por uma classe autoritária que não quer que tenhamos acessos a direitos, que antes só eram permitidos a privilegiados e os ditos bem nascidos, mas foram estas castas arrogantes que escravizaram nossas mentes e vidas até os dias de hoje.
Que minha mãe Iyemonjá Ogunté, alimente e frutifique nossas cabeças para dias melhores em nossas tão árduas vidas cidadãs!
Viva o meu Brasil, Viva a Democracia!
Não ao Golpe a vida!

Beatriz Moreira Costa



26 de setembro de 2015

Erê na mira do Alibã - A Polícia que Mata Criança


Lembro que a primeira vez que tive contato com um Erê fiquei curioso pra entender o porque aquela tão alegre energia temia o Alibã (como eles chamavam os policiais). Hoje, consigo entender melhor o porquê de tanto pavor. Como não sentir medo de alguém que mata crianças? 
Esse texto é um olhar para os tantos Erês que vivem na mira de extermínio da polícia brasileira. 27 de Setembro celebramos Cosme e Damião, os Erês, Vunjis e a dupla Ibeji, do Candomblé. O meu pedido à essas energias é um só: ajudem nossas crianças a enganarem Iku, porque tem muitos deles que não conseguirão chegar até o terreiro da esquina para comer doce, nos próximos finais de semana.

Lá se vai o protegido pelos gêmeos, lá se vai Erê pra viver. É que sua essência é brincar, e a felicidade o faz doce de ser.
Lá se vai Erê que não tem playground, não tem quintal grande pra o conter. Seu parque é a rua de asfalto esburacado, sua vida se faz verdade nas ladeiras do morro e seu maracanã é o plano terrão desnivelado, no coração da quebrada.

- Mas antes de ir pra rua, trate de comer, seu menino!
- Sim senhora, Dasmãe.

E ele come, todo afobado pra não perder tempo de brincar. Come quase que sem respirar, e ainda de boca cheia, entorna o copo de tang laranja. De sorriso travesso, limpa  boca no pano de mesa, sem que dasmãe veja. Grita pra tomar a bençã e sai feito foguete, pela porta da frente.

 - Eita menino, viu!? Vai com cuidado e que Oxum te proteja nessas rua. 

Dois passos de menino cruzados pelo portão de madeira e o coração chama  Dasmãe para conversar. O coração é jeitoso e dá uma apertadinha quando quer falar. Entre um tremido gole d´água e outro, corre uma lágrima no rosto que treme por inteiro. Bem lá no fundo, quando a mãe de puro amor pedia para Oxum proteger seu menino nas brincadeiras, ela dizia também que o amava demais. Parece até mentira, mas na correria do dia a dia, ela que saia cedo pra faxinar e só voltava no fim da novela das nove, quase nunca tinha tempo pra contar para o menino o quanto era grande seu amor pela doçura de Erê que só veio ao mundo depois de muita reza para a Dona das Águas Douradas.
É esse tipo de Amor que vive em nossos lugares. Amores vistos nas entrelinhas, mas nunca com espaço para gritar em vozes, porque o tempo é inimigo de quem não nasceu com vida fácil, e precisa ralar muito. Uma vez ou outra, quando a bateria de erê desligava no sofá da sala que Dasmãe o tomava no colo e ao acariciar o garoto quase homem, sussurava um Te amo no ouvido do menino que não ouvia, mas sentia no acolher de um singelo sorriso adormecido.

Do outro lado da vida, lá no pé do asfalto, o calor queimava os neurônios prensados na boina preta do Alibã. Protegido por toda sua arrogância e habeas corpus de justiça imperada na ponta de fuzil, transpirava a obscuridade entorpecida pela obrigação de cumprir ordem. A A Adrenalina em ânsia, o secava a garganta e ele só sabia salivar féu ao olhar para o alto e nada enxergava, além de alvos em contraste com a luz do sol.
Ali estava o medo em essência, e o medo covarde subia os caminhos pelas beiradas. Quem o via, corria, se escondia, pois sabia que ele nunca foi segurança. E a vida correu...

A vida corria em alegria, sem notar que Alibã subia. O que Erê queria?
Erê corria para tornar realidade a brincadeira. Descalços e sem camisa, livre como gostava de ser, Erê corria as vielas para chegar até a vendinha e comprar de vez a nova bolinha de ping-pong, que há dias esperava para ter. Ping... Pong... Ping... Pong... Pow! O menino não chegou.



Foi um Pow, sem pong,  sem ping. A doçura pingou de uma vez só no asfalto quente. Pingou como gota de felicidade agora despedaçada e sem vida. Pow! Explodiu a dor de vez no coração de Dasmãe que entendera o recado e correu em direção do seu menino que só era alegria no mundo cão.
Nesse mundo cão onde a bala de fuzil tem direção certa, o menino protegido pelos gêmeos não conseguiu desviar, porque sua pele negra o fazia alvo.

Protegido sim por Oxum, por Iemanjá e pelos Gêmeos, atravessou o mundo brincando, mas antes da hora - E quem sabe  a hora certa? Olorun sabe, mas o Alibã acha que que suas balas são os ponteiro de relógio e acerta quando e quem quiser, no país onde a impunidade extermina suas vidas mais importantes. O que esperar de uma nação que institucionalmente assassina suas crianças que só fazem brincar de ser feliz?




E lá vai Erê, agora acariciado no colo de Oyá, Príncipe como sempre foi, cortejado por todos os Orixás para se juntar aos seus outros irmãos e irmãs da patota de Cosme, Damião, Doum, Crispim, e a Ibejada tão doce quanto o amor de Dasmãe que ficara desamparada no mundo cão, mas que passa a ser cuidada em todos os dias por seu menino que poucas vezes ouviu seu Te Amo, mas que a partir de agora, a ouve sem dormir. Ele vai cuidar de sua mãe e vai brincar de ser criança somente para proteger todas as outras crianças que, dia após dia, tem trabalho para enganar Iku que habita a alma cruel do Alibã. 

[Para Herinaldo Vinicius de Santana, de 11 anos, morto após ser baleado na comunidade Parque Alegria, no Complexo do Caju, nesta quarta-feira (23/09).]

*Foto 1: Roger Cipó - Olhar de um Cipó
*Fotos 2: Frame de uma reportagem sobre o assassinato de Herinaldo 
*Foto 3: Amigos de Herinaldo protestam contra a violência policial no Rio de Janeiro. 

17 de agosto de 2015

Exú e a Cidade que não é do Homem



Coitado é aquele que pensa que faz o que quer e quando quer 
Esú é quem manda na cidade. 

É quem toma a sua Boca e faz você dizer o que ele quer. 
Também te faz pensar o que não pensa,
Te leva para onde você não vai 
E só dar aquilo que você merece, 
Quando ele acha que deve. 
Ahh, coitados aqueles que acham que mandam na cidade.

É Esú quem manda nas vontades do Mundo. 



[As Águas de São Paulo 2014 - Foto e Texto: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved]

11 de agosto de 2015

Ser Militante para...



Ser militante para: 
- ver mulher preta rachando mulher preta;
- ver mulher preta rachando homem preto;
- ver homem preto rachando mulher preta;
- ver o empoderamento a partir da estética se transformar numa ferramenta agressiva que dita qual cabelo é mais de preto, qual pele é mais de preto, qual turbante é mais de preto, qual vestido de estampa africana é mais de preto;
- ver que o fomento ao afroempreendedorismo se transformou numa arena de pessoas sem ética, de plágios descarados, de competição desleal e da mais completa falta de senso comunitário;
- ver que a busca por autoconhecimento se transformou num instrumento de silenciamento do outro, onde quem está equipado dos saberes acadêmicos desqualifica os que não sabem, promovendo uma Rinha de Sabichões;
- ver que nossos corpos são regulados - nossa magreza, nossa obesidade, a sexualidade ainda é julgada;
- ver a cultura do Recalque sendo alimentada pelas indiretas violentas, pelas perseguições na internet e pela ilusão vaidosa e narcisista de que a Fama Facebookeana torna alguém mais especial;
- ver que lutamos contra o racismo, mas criamos uma geração que não permite o outro ser o que se deseja ser, ter o que se deseja ter, comer o que se deseja comer, confessar o credo que se deseja confessar, julgando as escolhas e inferiorizando quem não segue a cartilha dos Pretos Perfeitos.
Prefiro ser apenas uma mulher preta comum.
Sem muitas aspirações políticas, amiga de pessoas comuns, que fazem o que acham que deve ser feito.
Pessoas comuns, e não produtores de Verdades.
Pessoas comuns que insistem em errar, e acertar, e errar de novo, e APRENDER, e com sorte ensinar alguma coisa a outro alguém comum.
Pessoas que sangram, que se confundem, que mudam de rota, que pedem pra sair e choram se estiver doendo muito.
Pessoas fracas, doentes, perdidas que, como eu, são comuns, e não têm resposta pra tudo.
Pessoas comuns que precisam de outras pessoas comuns para serem felizes. E que se alegram profundamente quando arrancam de pessoas sorrisos e não aplausos.

Texto Compartilhado do perfil de Fabíola
Foto: Denize Galiao


6 de agosto de 2015

Tem Crianças no Terreiro? Empoderem-nas!





Existe coisa mais Linda que crianças em Terreiro de Candomblé?  
Tem Sim! Mais lindo que crianças em terreiro, é criança em terreiro com a consciência de seu lugar no mundo, educada para a continuidade de sua história e certa de sua importância para o futuro de religiosidade afro-brasileira em suas comunidades. 

Infelizmente, nossas crianças ainda são atacadas, constantemente, pelo simples fato de pertencerem a uma religão diferente da imposta pela a sociedade, o que muitas vezes, faz com que a criança de terreiro se esconda, e/ou questione se a crença à ela ensinada é de fato positiva.
Dentre os ambientes sociais que propriciam esses  cruéis ataques, está a escola que "faz vistas grossas", e se omite na defesa das crianças de terreiros. (Pesquisas Explicam)
Nesse aspecto, e em muito outros, nosso sistema de ensino é Nota Zero porque não respeita a laicidade do estado e quase sempre é conivente com a violação de direitos básicos que por eles deveriam ser assegurados para que as crianças se desenvolvam com melhor consciência de seu lugar no mundo. 




É nosso dever, ensinar às crianças de Axé que o candomblé é uma das religiões mais antigas e mais completas da humanidade. 

Além disso, é nosso papel ensinar que, por serem de Axé, nossas meninas e meninos são filhas de filhos de Reis, Rainhas, Caçadores, Curandeiros, Tecnólogos, Alquimistas... São filhos e filhas das forças mais sublimes que a natureza pode gerar.

As crianças de Axé descendem de importantes reinos africanos, isso faz com que sejam Príncipes e Princesas - e têm o direito de serem tratados e educados como tal.

Nosso papel é fazer com que, cada vez mais, meninos e meninas tenham orgulho de falar sobre a religião dos Orixás.


Nossos dever é elevar a auto-estima desses jovens guerreiros e guerreias, para que não sejam vítimas dos crimes de intolerância religiosa, racismo e bullying. Pois ninguém merece ser maltratado por nascer em uma religião tão linda quanto é o candomblé. Ninguém. Muito menos nossas crianças que já nasceram com o poder de perpetuar o reinado da cultura de orixá.




Então, esse é meu recado a você: Pai, Mãe, Vô, Vó, Tio, Tia, Baba/Iyalorisá e família de santo: Não deixe de mostrar para nossas crianças o quão lindo é o candomblé e o quanto nossas crianças são especiais por serem Princesas e Príncipes herdeir@s do Axé.


Leia também: Crianças no Candomblé: 21 Motivos e 21 Imagens


 Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

24 de julho de 2015

Gente Grande é quem me Fez!


Ninguém precisa carregar o mundo nas costas, precisa não...
Há no mundo, muita mais dor que o nosso mundo suporta
Aahh, eu me faço homem bravo,sim!
Me atrevo a bater de frente, sagrando em correntes e gritando Nãos!
Visto-me de tudo que é valentia e parto, com o peito pra cima
Me embrenho nas ruas da vida, não descanso em esquinas e saio a encarar o mundo
Mundo tinhoso que eu tanto escorraço
por que deixastes ser tomado pelos mais sentimentos amargos..?
Mundo meu que me penso fora dele, quando sou todo parte do pecado, do próprio escorraço, e por muitas vezes, eu o Amargo...
Mas passa sábado, passa domingo, segunda, terça, quarta... Na quinta, eu me tomo em postura, e já sinto que não vale tanto o peso que ainda me assusta.
Anoitece em quinta,e eu vou me encontrando comigo
Já consigo lembrar que o peso desse mundo não precisa ser todo meu, não.
Já sei que de homem, só careço do peito aberto pra receber e dar amor. Vou de leve, desacelero e quero mesmo estancar a dor.
Dor de semana doente, mais doente que o mundo demente que me fazia o que for...
Aahh, já passa a noite e meu reflexo reluz eu!
Eu ainda sou aquele que de forte só tem Fé. Mas que seja na pancada pra aprender que é.
Acordo o Eu e repito: Menino eu sou, Ainda sou... E Amanhã serei menino... 


É o que sou!
E se o mundo não me permitir, insistirei em ser
Gente grande é quem me fez
Gente grande é quem me guarda
Gente grande é quem me ama
Eu, com o mundo, não guento não!
Eu devo mesmo ficar quietinho,
Confiar no dono do destino,
Entender que sou menino...
Vou sim, jogo o peso de lado
Não é mesmo o que tenho plantado,
De nós eu me desarmo
Eu sou só o filho dele
Quem manda no mundo é o meu pai
Desço um degrau,
Abaixo mesmo a crista
Sigo de peito aberto - só para acolher e amar
Sem pressa, é como devo ir e não fazer barulho mais
Tá bom, já sei que sou menino,
Mas vai dar certo
Homem do mundo, é meu Pai

Roger Cipó © Olhar de um Cipó 2015 - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

16 de julho de 2015

Educação e o Futuro do Terreiro

Devemos ser responsáveis ao conduzir a Vida Religiosa das Crianças.
Tudo que elas e eles farão, no futuro, será reproduzir aquilo que a educação ensinou, isso quer dizer que:
Se receberam Amor, Amor darão;
Se foram Bem acolhidos, Bem Acolherão;
Se foram ouvidos, saberão Ouvir; ...

E se lhes ensinaram que a base do culto ao Orisa é seguir a Verdade, com Humildade, serão sacerdotes Dignos e Honrados em levar o nome de seus Antepassados, por todos os lugares que passarem.

Nosso tempo é Agora. Até podemos errar, mas as oportunidades de acertar serão pouquíssimas. Por que não tentar acertar, sendo melhor para as crianças, seres de lindos, que nos dão o direitos de preenchemos seus corações daquilo que acreditamos, e que dependem de nossas decisões?

Estamos esperando o quê para mudarmos, pelo Futuro da nossa religião?

Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved

7 de julho de 2015

Religiões afro-brasileiras, uma questão filosófica (por Nei Lopes)



Em junho de 1993, a Suprema Corte dos Estados Unidos garantiu aos praticantes de cultos de origem africana o direito de sacrificar animais em suas cerimônias religiosas. Esse relevante fato histórico deveu-se, certamente, à articulação das casas de culto de origem cubana estabelecidas no país a partir da década de 1950, as quais na década de 1970 já tinham, entre si, a Church of The Lukumi Babalu Ayé, a qual se propunha, quando de sua fundação, a ter sede, escola, centro cultural e museu, para sua comunidade e público em geral. Na contramão de conquistas como essa, no Brasil atual chega-se a negar aos cultos afro-originados até mesmo a condição de religiões.

Filosofia. Em 1949 era publicado em Paris o livro La philosophie bantoue, obra em que o padre Placide Tempels dava a conhecer o resultado de suas pesquisas de campo realizadas no então Congo Belga. Contrariando toda uma concepção preconceituosamente negativa a respeito do pensamento dos povos africanos, o livro revelava a existência, entre os pesquisados, de uma filosofia baseada na hierarquia das forças vitais do Universo, a partir de uma Força Superior. Assim, quanto aos seres humanos, aprendia o missionário, entre outros postulados, que todo ser humano constitui um elo vivo na cadeia das forças vitais: um elo ativo e passivo, ligado em cima aos elos de sua linhagem ascendente e sustentando, abaixo de si, a linhagem de sua descendência. Consoante esses princípios, todos os seres, vivos ou mortos, se inter-relacionam e influenciam. E a influência da ação de forças tendentes a diminuir a energia vital se neutraliza através de práticas que façam interagir harmonicamente todas as forças criadas e postas à disposição do homem pela Força Suprema.

Meio século depois, outro missionário, o padre espanhol Raúl Ruiz Altuna, pesquisando a partir de Angola, conseguia estabelecer outra hierarquia, traduzida nos seguintes ensinamentos:

A Força Suprema reconhecida pelo pensamento africano corresponde ao Ser Supremo das religiões monoteístas. Criador do universo e fonte da vida, esse Ser infunde respeito e temor. Mas é tão infinitamente superior e distante que não é cultuado, ou seja: não pode nem precisa ser agradado com preces nem oferendas. Abaixo desse Ser situam-se, no sistema, seres imateriais livres e dotados de inteligência, os quais podem ser gênios ou espíritos.



Os gênios são seres sem forma humana, protetores e guardiões de indivíduos, comunidades e lugares, podendo temporariamente habitar nos lugares e comunidades que guardam, e também no corpo das pessoas que protegem. Já os espíritos são almas de pessoas que tiveram vida terrena e, por isso, são imaginados com forma humana. Podem ser almas de antigos chefes e heróis, ancestrais ilustres e remotos da comunidade, ou antepassados próximos de uma família.

Ao contrário do Ser supremo, gênios e espíritos precisam ser cultuados, para que, felizes e satisfeitos, garantam aos vivos saúde, paz, estabilidade e desenvolvimento. Pois é deles, também, a incumbência de levar até o Deus supremo as grandes questões dos seres humanos. Assim, já que contribuem também para a ordem do Universo, eles devem sempre ser lembrados, acarinhados e satisfeitos, através de práticas especiais. Essas práticas, que representam um culto em si, podem, quando simples, ser realizadas pelo próprio interessado. Mas, quando complexas, devem ser orientadas e dirigidas por um chefe de culto, um sacerdote.



Dentro dessas linhas gerais, segundo entendemos, foi que se desenvolveu a religiosidade africana no Brasil e nas Américas.

Relevância. Os estudos dos padres Tempels e Altura desenvolveram-se entre povos do grupo Banto, do centro-sudoeste africano. Mas outros estudos, inclusive de sábios e cientistas nativos, nos deram conta de que, embora as religiões negro-africanas tenham suas peculiaridades, todas elas comungam de uma ideia central, a da inter-relação entre as forças vitais, sendo vivenciadas segundo princípios comuns.

Por conta dessas formulações, em 1950, no texto Philosophie et religion des noirs (revista Présence Africaine, nº especial 8-9), o antropólogo francês Marcel Griaule primeiro indagava se seria possível aplicar as denominações “filosofia” e “religião” à vida interior, ao sistema de mundo, às relações com o invisível e ao comportamento dos negros. Perguntava-se, ainda, sobre a existência de uma filosofia negra distinta da religião e de uma religião independente, de uma metafísica, enfim.

Ao final de sua indagação, o cientista afirmava a existência de uma verdadeira ontologia (parte da filosofia que estuda a existência) negro-africana, concluindo pela antiguidade do pensamento nativo, nivelando algumas de suas vertentes a concepções filosóficas asiáticas e da Antiguidade greco-romana; e ressaltando a necessidade e a importância do estudo desse pensamento. Quatro décadas depois, o já citado Altuna, fazendo eco a Griaule, afirmava: “Basta debruçarmo-nos sobre esse conjunto de crenças e cultos para encontrar uma estrutura religiosa firme e digna”.



Definição. O termo “religião”, segundo N. Birbaum, referido no Dicionário de Ciências Sociais publicado pela Fundação Getúlio Vargas, em 1986, define um conjunto de crença, prática e organização sistematizadas, compreendendo uma ideia que se manifesta no comportamento dos seguidores. Daí aferimos que toda religião se define, em princípio, por um culto prestado a uma ou mais divindades; pela crença no poder desses seres ou forças cultuados; e em uma liturgia, expressa no comportamento ritual; e finalmente pela existência de uma hierarquia sacerdotal.

Pelo menos desde meados do século XIX, as religiões chegadas da África ao Brasil, apesar de todas as condições adversas, conseguiram recriar, no novo ambiente, as crenças e as práticas rituais de sua tradição ancestral, dentro dos princípios científicos que definem o que seja religião.

Na própria África já se distinguia, por exemplo, o feiticeiro (ndoki, entre os bantos), agente de malefícios, do ritualista (mbanda ou nganga), manipulador das forças vitais em benefício da saúde, do bem-estar e do equilíbrio social de sua comunidade. E no Brasil, como em outros países das Américas, as diversas vertentes de culto chegaram a tal nível de organização que constituíram, de modo geral, categorias sacerdotais altamente especializadas. Por exemplo, no candomblé: um babalorixá (“pai daquele que tem orixá”, e não “pai de santo”, como se traduziu derrogatoriamente) não tem a mesma função de um “babalaô” (“pai do segredo”), responsável por interpretar as determinações do oráculo Ifá. Uma equede (sacerdotisa que atende os orixás quando incorporados) não tem as mesmas funções de uma iá-tebexê (a responsável pelos cânticos rituais). Da mesma forma que um axogum (sacrificador ritual) não tem as mesmas funções de um alabê (músico litúrgico), por exemplo.


As religiões de matriz africana no Brasil, em suas várias vertentes, praticam uma liturgia complexa, que compreendem rituais privados e públicos. Nas práticas privadas, todo ritual se inicia pela invocação nominal dos ancestrais, remotos e próximos, dos fundadores do templo, em listas tão mais longas quanto mais antigo for o “fundamento” da casa. Nas festas públicas, notadamente no chamado candomblé jeje-nagô, oriundo da região africana do Golfo do Benin, as divindades (orixás ou voduns) se manifestam numa ordem rigorosamente obedecida, da primeira à última a entrar na roda das danças. E por aí vamos.


Constitucionalidade. Não é o monoteísmo que caracteriza uma religião. Se assim fosse, as religiões orientais como o hinduismo, o taoísmo etc. não seriam como tal consideradas. Muito menos o é a circunstância de as práticas religiosas serem ou não baseadas em textos escritos. A propósito, o historiador nigeriano I.A. Akinjogbin, em artigo na coletânea Le concept de pouvoir em Afrique (Paris, Unesco, 1981), assim se manifestou: “O conhecimento livresco tem um valor formal e importado, enquanto o saber informal é adquirido pela experiência direta ou indireta. Os conhecimentos livrescos não conferem sabedoria (…) O ensinamento tradicional deve estar unido à experiência e integrado à vida, até porque há coisas que não podem ser explicadas, apenas experimentadas e vividas”.

Vejamos, em conclusão, que toda a tradição africana de culto aos orixás, da qual no Brasil se originaram principalmente o candomblé da Bahia (nagô e jeje), o xangô pernambucano, o batuque gaúcho e a umbanda fluminense, tem uma base filosófica. Esse fundamento é, em essência, o vasto conhecimento que emana da tradição iorubana de Ifá, o oráculo que tudo determina, em todos os momentos da vida de uma pessoa, de uma família, de uma cidade, de uma nação etc. Da tradição de Ifá é que vêm, por exemplo, a origem dos orixás, sua mitologia, suas predileções, suas cores etc. O popular jogo de búzios é uma forma simplificada de consulta ao oráculo.

Esse corpo de doutrina, compreendendo muitos milhares de parábolas, foi transmitido de geração a geração entre os antigos babalaôs, na África e nas Américas. E nos tempos atuais, embora não unificado, já começa a ter circulação inclusive na internet.

Pois essa tradição remonta a muitos séculos; e sua história se conta a partir do momento em que Oduduá, o grande ancestral dos iorubás, cuja presença histórica, no século XII d.C., é atestada cientificamente (cf. A. F. Ryder, História Geral da África, Unesco/MEC/UFScar, vol. IV, 2010, p. 389), após fundar a antiga cidade de Ifé, enviou seus diversos filhos em várias direções, para fundar cada um o seu reino.
 


Mas esta é apenas uma parte da alentada e sábia tradição religiosa que os antigos africanos legaram ao Brasil. A qual, como um todo, goza da proteção constitucional do artigo 5º da Constituição Federal, bem como daquela assim enunciada: “O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional” (art. 215, parágrafo 1º).

Nei Lopes é autor de, entre outros livros, Kitábu, o livro do saber e do espírito negro-africanos (Ed. Senac-Rio, 2005).
Foto: Roger Cipó © Olhar de um Cipó - Todos os Direitos Reservados / All Copyrights Reserved